A CATÁSTROFE DE CARAGUATATUBA |
voltar |
MARCAS QUE O TEMPO DEIXOU...
O dia 18 de março de 1967, jamais será apagado da história de Caraguatatuba. O início daquele sábado cinzento e chuvoso ditava o transcorrer de mais um dia na bela e pacífica cidade. Durante todo o verão a chuva fina e intermitente anunciava mansamente o crepúsculo de uma tarde monótona e chamava pela atenção de que algo estaria por acontecer de inesperado, de transtornos e de muita tristeza para sua população.
Estranhamente, os primeiros sinais anunciados na manhã daquele fatídico dia seriam cruciais e de tristes lembranças para centenas de famílias, as quais, sabidamente, levariam consigo em suas memórias, as marcas causadas pela manifestação enfurecida da natureza.
A Serra do Mar possuindo um solo granítico em toda sua extensão e coberta por uma vegetação que se estende lateralmente e não tão profundas, viria a colaborar decisivamente para a maior catástrofe já conhecida no litoral norte. A chuva, sua companheira necessária para a constante mutação daquela exuberância verde, era uma aliada poderosíssima para o desenrolar da tragédia.
Uma enormidade de pedras, árvores e troncos, seguidos de uma lama vermelha, descia com uma fúria avassaladora a Serra do Mar. Depois, pessoas, animais, residências e pontes, completavam o quadro de horror. Os veículos que trafegavam pela SP-99, dentre eles um ônibus lotado, desapareceriam. Em outra situação desesperadora uma família inteira clamava por socorro, quando ficaram ilhados em um precipício. Sua única esperança era quando helicópteros sobrevoavam aquele local, e em que acenavam e esperavam pela Providência Divina! Tudo era destruição!
AS MARCAS DA DESTRUIÇÃO.
Em pouco tempo se contabilizava mais de 430 mortos, muito embora, oficialmente, não se tenha chegado a um número final, em razão de inumeras pessoas desaparecidas. O acanhado necrotério municipal era uma constante em recebimento de mortos, e o funcionário municipal conhecido por Severino, coveiro por profissão, jamais enterrara mais de três pessoas por dia, conforme dissera. Nos dias que se seguiram enterraria cem pessoas de uma só vez, muitas sem serem identificadas, sendo 15 delas em vala comum.
O desespero tomara conta da população que buscava notícias de familiares e parentes. Não havia luz, água potável, telefone e acessos, enquanto comida e gasolina eram racionados. Caraguatatuba estava arrasada pela catástrofe, onde 3.000 de seus moradores perderiam suas casas e mais de 30.000 árvores haviam descido as encostas, estampando na beleza da Serra do Mar, as marcas que levariam anos para sua recomposição. O Rio Santo Antonio que nasce na Serra do Mar e corta o município, alcançara 200 metros de largura, provocando um alagamento jamais visto. A principal ponte sobre o Rio Santo Antonio e que possibilitava acessos, deslocou-se, em razão da fúria devastadora que descia da Serra. A livre passagem sem a ponte possibilitaria o escoamento para o mar, beneficiando toda a cidade que já estava coberta pela lama avermelhada.
RECOMEÇAR...
O 5º BATALHÃO POLICIAL DE TAUBATÉ E OS PRIMEIROS SOCORROS.
5º BATALHÃO POLICIAL, A UNIDADE MÃE DO VALE DO PARAÍBA PAULISTA.
Enquanto isso, em Taubaté, antiga Capital do Vale, por volta de 15.00 hs daquele dia do crepúsculo do verão, o time de futebol do Batalhão conhecido como Jacques Felix, se preparava para mais uma partida em seus domínios. Tinha como responsável o Sgtº Acidino, valoroso policial militar, um dos fundadores do Canil do Batalhão e um dos heróis do triste episódio do incêndio da Casa de Custódia, onde pela sua bravura em salvar 09 detentos, fora promovido à graduação de 3º Sargento. De repente, soa o clarim com o toque de reunir no pátio do Batalhão. A informação precisa através do telégrafo não deixava dúvidas: a catástrofe de Caraguatatuba.
O uniforme para a prática de esportes dava lugar à farda e ao sagrado dever a ser cumprido. Verdadeiros heróis anônimos, sequer tiveram tempo de avisar seus familiares. Vidas humanas impiedosamente castigadas pela natureza, esperavam pelo socorro quase impossível, tamanhas eram as dificuldades que nossos valorosos homens teriam de enfrentar. Partiram em caminhões militares, sentados nas carroçarias, depois em outros, requisitados por empresas de transportes de Taubaté. Não houve tempo suficiente para que ao menos levassem cobertores, alimentação e materiais de primeiros socorros. Chegaram em Ubatuba ao cair da noite e dali para Caraguatatuba somente pelo mar.
Novamente, os heróis do incêndio da Casa de Custódia de Taubaté, Sargento Acidino e Cabo Milton Ribeiro deram início à nova empreitada com determinação ainda naquela noite quando da chegada do 5º Batalhão de Caçadores à Ubatuba. Ali prevaleceria o sentido amplo da compreensão quando de seus juramentos para o ingresso na Corporação “... defenderei com o sacrifício da própria vida”. Em determinado ponto havia a necessidade de se transpor uma barreira, mas esta, se tornava intransponível. A saída encontrada seria pelo mar, entretanto, foram orientados pelo Delegado de Polícia local a não se arriscarem, tendo em vista as encostas e o mar em turbulência. Ledo engano! Imbuídos do cumprimento do dever, se lançaram ao mar por volta de 21.00 h até chegarem no local pretendido duas horas mais tarde. Com isso conseguiram levar os primeiros socorros à famílias que se encontravam completamente ilhadas.
SARGENTO ACIDINO, MAIS UMA VEZ HERÓI.
Outros socorros se fizeram presentes, como rebocadores, barcos de pesca, enfermeiros de unidades militares, voluntários, helicóptero do CTA, militares da Marinha e do Exército se faziam presentes, bombeiros chegavam de São Paulo. Navios, como o oceanográfico Almirante Saldanha e Rio da Contas do Colégio Naval de Angra dos Reis, se incumbiram de levar equipamentos de socorros de urgências e gêneros alimentícios, bem como no auxílio do transporte das vítimas para Santos.
A mobilização da Força Pública contou com cerca de 350 homens pertencentes a oito unidades de São Paulo, Taubaté e Santos. Do 5º Batalhão Policial Taubaté, pioneiro nas decisivas jornadas, foram designados Oficiais e Praças que se encontravam de serviço, de folga e os Alunos Cabos que frequentavam a Escola de Sargentos. Seus nomes e seus feitos se encontram de maneira perene na memória de cada uma das vítimas que se salvaram de tão cruel catástrofe, bem como pela gratidão e reconhecimento do povo caraguatatubense. Abaixo, a relação dos heróis que arriscaram suas vidas, a maneira encontrada para homenageá-los perenalmente.
Alunos que frequentavam o Curso de Formação de Sargentos no 5º Batalhão Policial de Taubaté.
26083 Sebastião Alves Narciso. 1º Batalhão Policial (São Paulo).
26160 Geraldo Zeferino dos Santos.
27557 José de Souza Filho.
31089 João Batista Toledo Neto.
32353 Gimenez Alves dos Santos.
33482 Arlindo Camargo.
22993 Hortulamo Constante Martins. 2º Batalhão Policial (São Paulo).
25327 Osvaldo Alves Moraes.
3955 Abílio Colonese. 3º Batalhão Policial (Ribeirão Preto).
20555 Martinho Alves Cordeiro.
22458 Clarindo de Souza.
27915 Fernando Antonio Rosolém.
30751 Amauri Garcia.
32696 Antonio Severi. 2º G.B. Adido ao 3ºB.P.
24329 Elvando Gama. 4º Batalhão Policial (Bauru).
31633 Orlando Sebastião Penasso. 2º G.B. Adido ao 4º B.P.
7870 Darci Vicente Coelho. 5º Batalhão Policial (Taubaté).
20012 José Toledo Diniz.
20105 Francisco Ribeiro.
24756 Darcy Gusmão.
24609 Osmar Leite do Prado.
25241 Paulo Montemor Faro.
26073 José Benedicto de Oliveira.
26859 Oliveiro Félix da Rosa.
4183 João Evangelista do Nascimento. 6º Batalhão Policial (Santos).
20528 Claudionor Ferreira da Silva.
24810 José Nacazone.
26778 Maurício de Eirós.
26840 Djalma Evangelista.
27911 Edino Alves de Figueiredo.
30113 Valterso Livramento Galvão.
30928 Roberto Áureo Vilas Boas.
33145 Orlando Brisola.
33527 Marcos Antonio de Freitas Barreto.
14580 José Roza dos Santos. 7º Batalhão Policial (Sorocaba).
20536 Virgílio Silva Proença.
22416 Milton Cassemiro da Silva.
23969 José Maria dos Santos.
25876 Aparecido Thomé Franco.
26175 Daniel Benedicto Ferreira.
14696 Valdir Valladão. 8º Batalhão Policial (Campinas).
23331 Pedro Segundo Belvedere.
25793 Miguel Martins Tosta.
27581 Antonio Barnabé de Mendonça.
31206 Idomar Mendes de Oliveira.
32703 Hélio Antonio Pereira Agostinete.
19720 Celso Garcia Bittencourt. 9º Batalhão Policial (São Paulo).
25617 Luiz Vicente. 10º Batalhão Policial (Santo André).
27412 José Dantas da Silva Filho.
33967 Raul Alves Correia Gallindo.
33977 Celso Gama.
9885 Alcides Quintiliano da Silva. 12º Batalhão Policial (São Paulo).
21823 Anestor Pedro de Oliveira.
23079 Abílio Cardoso Leão.
23339 Valdomiro Mói.
24393 Rivail dos Reis Rocha.
25769 Luiz Carlos Fernandes.
26463 José Nivardo Souza Sá.
26570 Lélio Ralho.
26615 Jarbas ignácio Veloso.
27369 Theófanes Benedicto Gonçalves.
28633 Pedro Bueno Rodrigues.
30471 José Roberto Vieira.
31027 Rubens Corrêa Claro.
33089 Antonio Salvador de Souza Mourão.
PROFº GILBERTO DA COSTA FERREIRA - HISTORIADOR, PESQUISADOR E ESCRITOR.
cfgilberto@yahoo.com.br
........
Deixe um comentário: |
Seja o primeiro a comentar!
|