ENEDINA DA COSTA CARDOSO FERREIRA |
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UM CORAÇÃO REPLETO DE AMOR.
A crendice popular está intimamente arraigada a todas as culturas, seja ela ligada à cartomancia, aos horóscopos, às simpatias, às superstições e tantas outras peculiaridades. Elas fazem parte do intelectual humano, e não existe um só momento na história do mundo sem a sua inevitável presença. Nesta crônica, procurarei explanar sobre uma outra peculiaridade, o papel desempenhado pelas benzedeiras em nosso país, e, de maneira especial, enaltecer o trabalho desenvolvido com todo amor e doação pela areiense Enedina da Costa Cardoso Ferreira. Somos sabedores de que as benzedeiras surgiram no Brasil com a chegada dos padres Jesuítas no século XVI. Suas participações nos atendimentos à sociedade colonial da época eram mais presentes e significativas nas áreas rurais, devido à dificuldade em se conseguir um médico que pudesse atender aos enfermos. Possuíam fé inabalável e se restringiam às orações, às ervas medicinais e às simpatias. Por serem muito benevolentes, eram respeitadas e tratadas como "Sinônimos de fé".
Em Taubaté, outrora, grande produtor cafeeiro e berço do Convênio de Taubaté, tivemos a figura inesquecível e saudosa de Dona Enedina da Costa Cardoso Ferreira. Nascera em Areias-SP, no Bairro da Santa Cruz, às 04.00 horas do dia 06 de dezembro de 1916, sendo filha dos lavradores Joaquim da Costa Cardoso, nascido aos 14 de junho de 1870 na Freguesia de Moreira, em Portugal e de Generosa da Costa Cardoso, nascida aos 13 de janeiro de 1879 em Barra Mansa-RJ. Teve sua infância e adolescência toda ela voltada para a família, para a religião e para o trabalho árduo na lavoura, juntamente com seus irmãos Benedicto, Antolina, Albertina, Lydia, Maria, Alzira e Anita. Vivia deles e para eles. Em razão dos intensos afazeres domésticos e braçais, estudou com muitas dificuldades, não chegando a concluir o primário. A pequena e aconchegante Areias importante cidade paulista do século XX, quando se tornara grande produtora de café e um dos esteios estratégicos de São Paulo, na Revolução Constitucionalista de 1932, é o começo de sua linda história. É um exemplo de vida, uma história de amor e um tesouro de exemplos! Aos oito anos já apresentava suas mãos calejadas pelo Senhor do Tempo, devido ao uso de instrumentos rudimentares e inadequados para sua tenra idade, e em serviços pesados na ajuda preciosa à sua família.
Entretanto, um fato marcante determinaria toda sua vida. Desde criança sempre voltara seus olhos e sua consciência para Deus, tornando-se uma religiosa. Sua generosidade e amabilidade eram a extensão do coração da mulher conhecida biblicamente por sunamita. Em Areias-SP sua cidade natal, conheceria Geraldo Soares Ferreira e com ele se casaria no dia 19 de outubro de 1940, às 17.00 horas. Entretanto, sua vida de amor ao próximo, à caridade e a ajuda aos mais necessitados com suas bênçãos, continuariam como uma rotina a ser seguida, com determinação e fé. Dotada de dons espirituais, sua casa era visitada por muitas famílias, algumas até de outras cidades, à procura de um bálsamo para seus corações aflitos. As orações “Pai Nosso”, ”Salve Rainha”, “Ave Maria” e “Creio em Deus Pai” faziam parte de sua fé inabalável em Jesus Cristo para curar os enfermos, a conseguir um emprego, a curar um vício, ao ajustamento de um lar, e a tantos outros pedidos. Os filhos Neusa, Nelson, Célio, Neide e Cleuza viriam a ser os complementos e a primeira geração daquela família humilde, mas, feliz.
NEUSA, A PRIMOGÊNITA.
Mais tarde, outra mudança, desta feita para Taubaté, onde a família se estabeleceria e passaria a viver. Seu marido, Geraldo, se aposentara da antiga Mecânica Pesada, passando a se ocupar de uma nova atividade: a de charreteiro, conhecido que era por Geraldo Charreteiro, e que durante muitos anos ainda, transportaria vidas em uma Taubaté, ainda também bucólica.
TEMPOS QUE NÃO VOLTAM MAIS.
Ela, também aposentada, continuava sua vida de batalhadora, trabalhando na lavoura de batatas, na plantação de hortaliças no quintal de sua residência, nos deliciosos pirulitos vendidos pelos meninos e ao atendimento de todos que a procuravam para as soluções dos problemas do cotidiano.
A CRIANÇADA SE DELICIAVA...
Mas, como eles, os filhos também seguiriam seus destinos, no caminhar inevitável de suas vidas, casando-se e constituindo suas famílias, advindo então sua segunda geração, com os netos Eliseu, Elucimara, Edmilson, Edemir, Ednéia e Edilene, filhos de Neusa; Nilcéia, Naíze, Nádia e Waner, filhos de Nelson; Daniela, Rodrigo e Fernanda, filhos de Célio; Miriam Gislene, filha de Neide; e, Gizélia e Aline, filhas de Cleuza. Edilene, filha de Neusa, falecera ainda precocemente aos três anos de idade. A neta caçula e tão querida dos avós ficaria pela estrada da vida e do destino, como nordestinos, que, abandonando suas terras ante o flagelo da seca, deixam para trás, lembranças infindas. Depois, ocorreria a terceira geração com os bisnetos Lyandra e Larissa, filhas de Nilcéia; Marcela e Vitor, filhos de Naíze; Clara, filha de Nádia; Mariana e Cecília, filhas de Waner; João Pedro e Mateus, filhos de Daniela; Gabriel e Isadora, filhos de Rodrigo; Renan e Tatiane, filhos de Eliseu; Eder, Laiana, Alisson e Elizabete, filhos de Edmilson; Lucas e Felipe, filhos de Gislene; Larissa e Lucas, filhos de Edemir; Silas e Samira, filhos de Ednéia; e, Carolina, Adriano e Amanda, filhos de Elucimara. Entretanto, com a saúde debilitada, dona Enedina não chegaria a conhecer sua quarta geração, os tataranetos João Pedro e Vinícius, filhos de Carolina; e, Pedro Henrique, filho de Amanda.
Durante toda sua vida representou a "grande valia" para os humildes e mansos de corações, meditando a todo instante os mistérios da bondade e do amor, sendo a doação e a dedicação ao seu semelhante. Fez da caridade o sentido de viver, e nada houve capaz de afastá-la de sua retidão de vida, tampouco os anos e a doença enfraqueceram-na na disposição de servir ao seu semelhante. Já alquebrada pela idade, encontrava-se acamada, devido ter seu estado de saúde se agravado em decorrência de uma queda acidental que sofrera e a impossibilitara de se locomover normalmente. Todavia, atendia a todos através de suas orações, tornando-se um sacerdócio para si até seu último momento de expiração. Assim, quis Deus chamá-la ao seu encontro no dia 17 de março de 2003, às 04.15 horas, uma madrugada do crepúsculo do verão brasileiro. Morreu santamente, como santamente foram seus dias vividos entre nós, com aquele sorriso alegre, com aquele jeito de ser carinhosa e caridosa para com todos e com a saudade imorredoura, perpetuada em nossos corações. Seu caixão estava coberto de flores, as mesmas flores que sempre ofertara às criancinhas de Jesus Nazareno, a quem tanto amou. Seu sepultamento ocorreu na mesma data, no Cemitério Municipal de Taubaté, onde se encontra sepultada no Jazigo da família.
Descanse em paz, Alma Generosa! Até um dia!
PROFº GILBERTO DA COSTA FERREIRA - HISTORIADOR, PESQUISADOR E ESCRITOR.
cfgilberto@yahoo.com.br
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