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ROBERTO SEBASTIÃO BUENO

O SORRISO SEMPRE PRESENTE.

 

 

O MUNDO É MESMO PEQUENO...

 

No dia 1º de janeiro de 2013, quando procedia pesquisas pela internet, acabei por conhecer um internauta de nome Cleber Coelho, o qual, relacionado às pesquisas a que me propusera iniciar, teve fundamental importância em novas descobertas. A partir de então, tornamo-nos grandes amigos, porém, sem ainda nos conhecermos pessoalmente.

O tempo foi passando, e, nossas conversas tomaram novos rumos, ao invés de e-mails passamos a nos comunicar também pelo facebook. E, em uma de nossas conversas, manifestei-me com uma postagem sobre uma pessoa, seu amigo, de nome Bueno, mais conhecido como Bueno Cantor, pessoa de tradicional família de Ribeirão Preto-SP.  E o novo amigo, Roberto Sebastião Bueno, em nossas conversas informais, esclareceu que ingressara na Polícia Militar do Estado de São Paulo na década de 70, sendo movimentado para Taubaté, no Quartel do 5º Batalhão Policial.

Considerada a Unidade Mãe dos Batalhões do Vale do Paraíba, o 5º Batalhão é responsável pela formação de profissionais que frequentam a Escola de Soldados. Naquela época, eu servia no mesmo Batalhão como sentinela, e hoje penso comigo, quantas centenas de vezes nos encontramos!

 

 AO CENTRO, COMO POLICIAL RODOVIÁRIO NA DÉCADA DE 70.

 

Roberto, o qual, a partir de agora tratá-lo-ei por Bueno, nasceu aos 18 de outubro de 1947, na cidade de Batatais-SP, filho de Rosemiro Bueno, antigo maquinista da Estrada de Ferro Mogyana, e de Rosa Bueno, uma batalhadora dos "tempos difíceis". Por contingência do destino passaria a residir em Ribeirão Preto. Ali conheceria Sônia, o encanto e o grande amor de sua vida, e segundo ele, sua Primeira Dama, como a trata carinhosamente. Tiveram dois filhos, Paulo Roberto de Melo Bueno e Lucas Eduardo de Melo Bueno. 

Bueno se aposentaria da Polícia Militar em 1996, na graduação de Cabo PM, encerrando suas atividades no Corpo do Policiamento Rodoviário Estadual, a nossa sempre querida Polícia Rodoviária. Entretanto, músico desde os 15 anos, continuaria a exercer uma nova jornada, sempre acompanhado de seu caçula, seu ombro amigo, seu pianista e seu eterno mestre, Lucas.

 

UM SHOW COM SÓCRATES, MARCELO E LUCAS AO TECLADO.

 

Certo dia, ao alvorecer do inverno, Lucas ficaria para trás, como nordestino que abandona suas terras ante o flagelo da seca, à margem da estrada da vida, quando de um fatal acidente automobilístico. Ele, que três dias antes presenteara seu pai com um abraço afetuoso em comemoração aos Dia dos Pais, agora novamente estava diante dele, mas, para a terrível despedida. Obra do destino! Porém, a vida teria de continuar, e Bueno, agora, caminharia sem seu eterno companheiro de jornadas memoráveis.

Como homenagem póstuma, a Câmara Municipal de Ribeirão Preto dedicou-lhe simbólicamente uma de suas ruas, denominada Rua Lucas Eduardo de Melo Bueno, localizada no Condomínio Colina do Golf.

Paulo Roberto contrairia matrimônio com Kátia Fernandes Bueno e dessa feliz união nasceriam Luiz Roberto Fernandes Bueno e Kauã Fernandes Bueno, para alegria dos avós e para preencheram um vazio imenso com a perda de Lucas. E ao seu neto Kauã, dedicaria uma obra prima denominada "Meu Pequenino".

 

   

UMA LINDA CANÇÃO PARA KAUÃ. COISAS DE VOVÔ.

 

Bueno é um músico de primeira grandeza e um compositor de escol ao lado de Sócrates, Raí, Carlinhos Vergueiro, Toquinho, dentre outros, além de tocar com muitos famosos. Assim é Roberto Sebastião Bueno, ou Cabo Bueno, ou ainda Bueno Cantor. Mas, para todos nós, sempre será Bueno, Bueno, Bueno, corinthiano e botafoguense.

 

BUENO, SÓCRATES E RAÍ, HOMENAGEANDO RIBEIRÃO PRETO.

 

 

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UMA HISTÓRIA DE AMOR E OS SONHOS REALIZADOS.

 

No final dos anos 60, um cantador que atravessou toda a Jovem Guarda com seu conjunto cantando Beatles e Rolling Stones, e que, com o final do conjunto dos meninos de Liverpool, descontente, passou a seguir carreira solo, mas sem sucesso.

 

UMA LEMBRANÇA INESQUECÍVEL

 

Na mesma época se apaixonou pelos encantos de uma linda jovem e começaram a namorar. A “responsa” o visitou, daí partiu pra realizar outro sonho, ser Policial Rodoviário, para poder se casar com a moça que o encantava.

 

                                                   

 

Ele se via na pele do ator Carlos Miranda e seu personagem Vigilante Rodoviário, seriado para a TV filmado na região de Itu. Estudou muito e conseguiu que seu sonho fosse realizado.

 

                                       EM TAUBATÉ, O INÍCIO DO SONHO.                                       NO 5º BATALHÃO, O SONHO REALIZADO.

 

No período de namoro, a sogra do cantador vivia dizendo que se seu marido estivesse vivo, talvez não permitisse que a filha namorasse o cantador, e que muito embora seu marido fosse Sargento do Corpo de Bombeiros - muito enérgico, apaixonado por educação física, diziam que ele fazia barra de lado, tamanha era a força que tinha nos braços. Porém, o Sargento tinha seu lado terno e romântico: tocava muito bem seu violão e cantava como poucos, até fazia parte de um conjunto de chorinho que tocava nas antigas rádios 79 e PRA7.

Mas o cantador, muito gente boa, cercava a namorada de mimos e serenatas e contra-atacava sua sogra dizendo que talvez fosse o contrário; ele poderia ser um grande parceiro musical, um amigo de saudáveis boemias do sogrão e coisa e tal. Sargento Paulo, um homem alto e muito forte, nos anos 50, foi Comandante do Destacamento Policial de São Joaquim da Barra. Patrulhava as ruas da cidade segurando na coleira seu cão Pastor Alemão, de nome Lobo. A cidade naquela época não tinha delegacia, muito menos delegado, o sargento era tudo ali. E a população tinha por ele o maior respeito.

Nas horas de lazer, com seu violão, fazia parte do grupo de seresteiros da cidade formado pelo dentista Aniz João, Juvenal Carteiro e outros músicos. O famoso ator e apresentador de TV, Rolando Boldrin, era menino ali e muito esperto, aprendeu logo os primeiros acordes de violão com o Sargento, isso dito pela sogra do cantador. O tempo passou e alguns anos atrás, numa festa aqui em Ribeirão Preto, Rolando Boldrin estava presente e o cantador com sua esposa foram conversar com ele e, no papo, disse ao ator: Rolando, minha esposa é de São Joaquim da Barra e é filha do Sargento Paulo. O rosto de Boldrin se transformou, sorriso largo de alegria. Naquele momento voltou a ser aquele menino e respondeu: Sargento Paulo de Moraes Melo...

 

QUANDO DESTINOS SE ENCONTRAM...

 

Todos surpresos e Rolando, que adora contar um causo, falou: vou contar uma história que eu vi com meus próprios olhos sobre ele. O Sargento Paulo, certa vez, prendeu um caboclo valentão, que atrás das grades passou a desafiar o policial dizendo: Você é valente porque está fardado, tire esta farda e entre aqui que te darei uma surra. O Sargento, quieto, só ouvindo e o cara repetindo: Tire esta farda e entre aqui que te darei uma surra... O sargento Paulo, se sentindo incomodado, resolveu aceitar o desafio. Tirou o quepe, o cinturão com o revólver e baleiro, colocando tudo naquela manjada mesa de delegacia e respondeu ao valentão: Ô, fulano, vou entrar aí desarmado, vamos lutar, se você me vencer abro a cela e você vai embora, estará livre, mas, se for ao contrário, você vai mofar aí. Rolando Boldrin contava e colocava todos na cena da luta. Disse ele que o Sargento Paulo deu uma tremenda surra no valentão, deixando-o mole naquela cama da cela. A galera aplaudiu, ele brigou, saiu e nem amarrotou sua farda.

Essa história se espalhou pela cidade e o valentão que tinha a fama de bater em todos que se metiam com ele, na maior humilhação tratou logo de se mudar, ninguém ficou sabendo pra onde. Vez em quando Rolando Boldrin vem a Ribeirão Preto e o cantador vai encontrá-lo. E dá-lhe histórias que não tem fim. O cantador apaixonado desta história... Sou eu.

 

O SORRISO SEMPRE AMIGO.

 

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OS ENCONTROS QUE A VIDA NOS PROPORCIONA.

 

Conto hoje algumas histórias narradas por Paulinho da Viola. Após delicioso almoço na Churrascaria Coxilha dos Pampas, que tive o privilégio de estar presente, lá estavam Sócrates, Datena, Carlinhos Vergueiro, Paulinho da Viola e a empresária. Formamos uma roda de prosa de primeira.

 

O PONTO DE ENCONTRO. MELHOR, IMPOSSÍVEL.


 

          

    ÍDOLOS, SAUDADES E MOMENTOS INESQUECÍVEIS.

 

Paulinho da Viola não escondia sua felicidade de estar com seu ídolo, que ele, educadamente, chamava de Doutor, até que Sócrates cheio de humildade lhe disse: Paulinho deixe de me chamar de doutor, cara, o que você fez pela nossa música poucos fizeram e foi logo perguntando ao compositor/cantor como ele havia composto “Foi um rio que passou em minha vida” que é considerada sua maior obra.

Paulinho riu timidamente e começou a contar que era moleque e na companhia de amiguinhos, certa noite, escondido do pai, foi até a Avenida Marquês de Sapucaí, para assistir os desfiles das escolas de samba, que ele nunca tinha visto, a não ser pela TV. Nem ele, nem os amigos, tinham dinheiro. Subiram por debaixo das arquibancadas de madeira e conseguiram um jeito de poder visualizar a passarela. Foi justamente quando entrava na avenida a Escola de Samba Portela. Paulinho disse que ficou encantado com aquele azul de vários tons, cor padrão da escola.

 

MOMENTO MÁGICO NA VIDA DE PAULINHO DA VIOLA.

 

Já em sua casa ele disse que a cena portelense não saia de seu pensamento e que quando se descobriu compositor retratou na letra tudo que viu naquela noite encantada que o fez tonar-se portelense de carteirinha. Assim nasceu essa música que sempre será cantada em qualquer roda de samba. Paulinho contou que seu pai tocava violão comum e também violão sete cordas e que era músico do regional de Pixinguinha, mas não tinha paciência para lhe ensinar a tocar violão, daí pediu para um amigo fazê-lo.

Quando se referia ao pai, o fazia com o maior respeito, começou a rir porque se lembrou da bronca que seu velho tinha por ter o mesmo nome do famoso tesoureiro do Collor que fez aquela lambança. Paulo Cesar Farias, seu velho sempre resmungava: Como é que um malandro como esse, pode ter o meu nome? Como é que pode?  Paulinho continuou falando do pai, disse ele que quando fazia show no Rio de janeiro levava seu pai para tocar violão sete cordas.

Pra quem não sabe o violão sete cordas tem um bordão a mais, enriquecendo o samba com notas mais graves. Eu adoro cantar com um violão assim. Certa noite vieram uns americanos para assistir um show e contratar Paulinho para uma temporada em Nova York. Ele levou seu pai com o seu sete cordas. Quando acabou o show, os visitantes dirigiram-se ao camarim para conversar com Paulinho e foram logo dizendo: Só fechamos o negócio se aquele senhor for junto. Paulinho explodiu de alegria e disse: "Mas é meu pai! É lógico que ele vai...".

Rimos muito. E papo vai papo vem, Sócrates perguntou a Paulinho se era verdade que ele havia se desentendido com Benito de Paula. O sambista Portelense ficou um pouco sério e não perdeu o tom. Sabe Sócrates, disse ele, o Benito era cantor de baladas italianas, na novela Nino o italianinho, era ele que cantava o tema da novela, de repente ele lança um LP de sambas e tirou deles o que considero a alma do samba... O cavaco, o pandeiro e o tamborim. Ele se apresentava na TV só com o piano e um percussionista tocando timba e chimbal, a rapaziada do samba, inconformada, ficou na maior bronca daí eu compus o samba “Argumento”. Benito matou de cara que foi pra ele, que também segurou as pontas.

 

  

                                          TÁ LEGAL, EU ACEITO O ARGUMENTO...                                                       MAS, NÃO ME ALTERE O SAMBA TANTO ASSIM...

 

Com o tempo tudo caiu no esquecimento e até Benito passou a cantar o meu samba. “Tá legal eu aceito o argumento, mas não me altere o samba tanto assim, olha que a rapaziada está sentindo a falta, do cavaco, do pandeiro e de um tamborim...”.

 

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ALVORECER TRAIÇOEIRO.

 

 

LUCAS EDUARDO - BÁLSAMO PARA SAUDADE DOS NOSSOS CORAÇÕES.

 

 

Quarta feira do inverno brasileiro. O alvorecer se fazia presente naquele 17 de agosto de 2005 na bela Ribeirão Preto. Há pouca distância dali, na estrada que liga a outra bela cidade, São Carlos, a fatalidade ocorreria de maneira cruel, devastadora, insidiosa e sorrateira, ao dilacerar corações de duas famílias e a enlutá-las com a perda de dois entes queridos e insubstituíveis.

Naquele término de madrugada fria, o vento, nas alturas, cantarolava baixinho e as estrelas, apagadas, tinham um perfume casto, de rosas vermelhas que simbolizavam o amor.

 

 

Jovens ainda, como que desejando alcançar o estrelato e a perseguir a tão sonhada glória, retornavam de um show realizada na vizinha São Carlos. E dentre eles, Lucas Eduardo de Melo Bueno, filho mais novo do casal Roberto e Sônia, representava a alegria e o orgulho incontidos. Estudioso e inteligente, marchava pelos caminhos do conhecimento, contente da vida e do mundo, como um jovem ateniense que escalasse, cantando, a montanha sagrada, para colher lá em cima, o disco de ouro do sol.

Dedicado e altruísta, possuía formação artística profissional por competência e por devoção à arte divina que Deus nos deixou: a música.

De súbito, a tragédia. Logo pela manhã, as primeiras notícias de seu passamento e de seu colega, também músico, ecoavam em toda a região. O mundo de seus pais e irmão haviam desabado! Pela primeira vez aquela boca adolescente não respondia aos teus beijos e aqueles braços não se moviam para se te atirarem ao pescoço. Pela primeira vez aqueles olhos não responderiam ao espanto diante de teus choros, sem uma lágrima das tuas lágrimas. Lucas Eduardo estava morto.

E eis que, de repente, Deus os priva daquele a quem havias feito a luz dos teus olhos, a água da tua sede, o pão da tua fome, o ar de seus pulmões!

Sônia, mãe extremosa que o trouxe de suas entranhas, que criou-o com o seu leite, que passou as noites junto ao seu leito, velando em silêncio, esquecia das vigílias noturnas, as incansáveis canseiras do dia. Enquanto vivia, quanto cuidado, quanta preocupação! No momento, porém, da provação suprema, que transfiguração na sua fraqueza! Quanta coragem se revestiu essa alma espartana, para receber o golpe incomparável.

Mas é necessário viver. E ei-la, magnífica de dor e de heroísmo calado, a mover-se de manhã à noite, sempre lembrando do filho querido em todos os momentos e em todos os lugares. Mulheres como você, Sônia, quando sofrem assim, afrontam a dor e ficam acima da humanidade.

A passagem de Lucas Eduardo entre nós, fora de extrema importância. Distribuíra, por onde passara, o carinho, a atenção, a benevolência e o amor incomensurável de que era portador seu coração. Os momentos de felicidade e prazer em suas apresentações, expressam por si só, quando companheiro inseparável de seu pai, em que era, ao mesmo tempo, seu pianista, seu maestro e seu tudo.

A ti, Lucas Eduardo, cabe a mais nobre das missões. Há, aqui embaixo, na Terra, um  cantor que chora em silêncio, e cujo sofrimento é calado. Reúne os seus gemidos surdos, as suas lágrimas ignoradas, os seus sonhos nascidos mortos e transforma-os em bálsamos para sua alma aflita. Também, à sua mãe Sônia e ao seu irmão Paulo Roberto, derrame bênçãos em forma de pequeninas flores que se refugiam sob as folhas rasteiras, para que aliviem os grandes tormentos escondidos, que sua falta faz.

 

 

 

 

UM DIA, A ESPERANÇA DO REENCONTRO.

 

Dá-lhes, enfim, sonhadores sem glórias, e em nome de sua glória de estar junto a Deus, instantes de felicidade! Deus o abençoe.

 

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UM CERTO "SARGENTO RODERVAL".

 

Taubaté é uma bela cidade do Vale do Paraíba. Lá existe um quartel especializado na formação de policiais militares, o 5º Batalhão Policial. Lembro-me como se fosse hoje quando passei por lá em 1970. E olha que já faz 47 anos. Saímos de Ribeirão Preto às 10 horas da noite de trem. Éramos 200 jovens atrás de um sonho. Ser policial. Chegamos em São Paulo às 6 horas da manhã. Vários ônibus terminaram o percurso até Taubaté, nosso destino, onde passaríamos os próximos 6 meses. Lá nos juntamos em mais de 300 recrutas de todas as partes do Brasil.

5º BATALHÃO DE POLÍCIA MILITAR DE TAUBATÉ, EM 1970.

 

Era hora do almoço, e lá, a hora do rancho e tudo na polícia funciona como um relógio. Hierarquia, respeito obediência e disciplina admirável. Fomos colocados em forma em frente nossas malas. Sobre a minha, estava meu inseparável violão. Foi quando um Sargento viu e logo perguntou num tom intimidador: ”De quem é esse violão”. E eu, no meio da tropa, num misto de medo e timidez respondi que era meu. Logo ele retrucou! “Você está pensando que está numa colônia de férias, seu recruta, você vai ralar aqui”.

O ambiente foi tomado por uma silêncio de velório. Mas era o violão e as cantorias noturnas que ajudavam a matar a saudade, amenizar a distância das famílias e namoradas. Começaram as instruções e eu observava a disputa entre os sargentos para mostrar qual era o melhor pelotão. E era nas palestras que davam para as tropas que sempre falavam num tal de Sargento Roderval, tido como o bam-bam-bam do quartel, mas que na época estava fazendo um curso na capital. Nos passavam a imagem que ele era um ditador. Qualquer coisa que os recrutas aprontassem, lá vinha a ameaça! “Vocês vão ver quando o Sargento Roderval chegar!  

Dois meses se passaram e nós já estávamos com o preparo físico de dar inveja a atleta olímpico! Dizíamos que estávamos “na ponta do casco”. Foi quando começou a circular a notícia de que o Sargento Roderval estava retornando. Numa bela manhã, batalhão em forma, fomos apresentados à "fera"! A aparência dele nada lembrava o terror cantado em verso e prosa. Se tratava de um senhor franzino de estatura baixa beirando os 50 anos, calvo e o pouco dos cabelos que lhe restavam, estavam brancos. Imaginem aquele bando de recrutas, já ambientados ao quartel, cheios de manha! Entre nós o comentário era que o "velhinho" não nos aguentaria não! De repente o Sargento Roderval assume o comando e decide mostrar porque é tão temido! Começou com um ralo, uma bronca de mais de quarenta minutos que nos deixou no bagaço. Quando acabou disse com sua voz imponente e postada: “Amanhã, às 7 horas, todos em forma com o uniforme de educação física”.

No dia seguinte estranhamos a presença de um caminhão no pátio, e com o Sargento no comando. Lá fomos nós, correndo por ruas e estradas que cercam Taubaté. Tínhamos a certeza de que ele não aguentaria por muito tempo. Grande engano! O Sargento corria na ponta dos pés com uma elegância invejável. Sobe rampa, desce morro e lá ia ele, impecável! Cerca de quarenta minutos se passaram e então fomos descobrir o porquê do caminhão!

Servia para ir recolhendo os recrutas que iam pifando no meio do caminho! Depois de mais ou menos duas horas, retornamos ao quartel. Entre mortos e vivos sobraram poucos! O sargento Roderval, inteiraço! Desnecessário dizer que quem não completou o percurso recebeu castigo! Até que merecido. O tempo passou e passamos a admirar o Sargento Roderval, que se tornou o paizão de todos. Ele era assim. Com a mesma mão que castigava, também nos afagava. Ao se aproximar o final do curso, toda aquela rigidez ficou flexível. Passamos a ser tratados como profissionais que passaram por uma grande aprovação, aguardando seu destino.

No meu caso fui atrás do meu sonho. Queria ser policial rodoviário, onde fiquei até me aposentar em 1996. Devo à Polícia Militar minha formação, meu rumo norte. Tive dois filhos, o Paulo e Lucas que se espelharam em mim. Os fiz cumpridores de horários e honestos. Minha esposa Sônia que segurou toda a onda se aposentou comigo! Aos sargentos responsáveis pela formação de policiais, minha admiração. Aos meus eternos comandantes, Capitão Nascimento, hoje coronel, ao tenente Jair, também coronel, minha gratidão por longa convivência. À família do sargento Roderval, dedico este texto com carinho e respeito. Tenho orgulho de ter sido seu aprendiz! Ao quartel de Taubaté, onde nunca mais voltei, minha saudade de tempos tão imprescindíveis na minha vida!

 

5º BATALHÃO DE POLÍCIA MILITAR DO INTERIOR, EM 2017.

 

 

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ESTE É BUENO, QUE, DAQUI EM DIANTE, VOCÊ IRÁ CONHECÊ-LO MELHOR..

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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JUNTANDO OS PEDACINHOS.

 

 

PAULO ROBERTO DE MELO BUENO.

 

 

“Juntando os pedacinhos” é parte da letra da linda música de Guilherme Arantes. Apossei-me desse trecho para começar minha crônica de hoje. Guilherme, em sua canção, se refere a um amor que acabou, bem diferente da minha situação, em que o amor tem dimensões difíceis de imaginar. O amor de um pai pelo amado filho, seu primeiro filho, um filho maravilhoso, um marido exemplar, um pai carinhoso que nunca fumou, não gostava de bebidas alcoólicas.

Com 16 anos já trabalhava e casou-se muito cedo, aos 19 já era papai, adorava essas modernidades como computador e celulares modernos, aprendeu a mexer com isso sozinho por ser curioso. Adorava passar seus conhecimentos para todos que precisavam. Assim é Paulo Roberto de Melo Bueno. Eu digo é, sempre no presente, e não era porque sei que a vida continua. Este foi seu tempo aqui na terra. Paulo fará 42 anos agora em 19 de agosto, mesmo mês em que seu irmão Lucas Bueno nos deixou.

Meus amados filhos, após cumprirem suas missões, tiveram que partir. Deus nos presenteou com Paulo e Lucas para que cuidássemos deles e depois os devolvesse. Devolvo ao Senhor os meus e os seus dois filhos maravilhosos, dois filhos honestos, dois filhos dignos, amigos dos amigos, dois filhos amados como poucos. Sempre foram preocupados com os menos favorecidos e isso muito me orgulha. Lucas, no dia 17 de agosto fará 12 anos que ele partiu.

Vejam vocês que costumam ler minhas crônicas: ele era meu pianista, tecladista, arranjador, no meu programa de TV era meu produtor... Com sua partida fiquei sem chão, foi muito difícil na época tentar “juntar os pedacinhos” e recomeçar. Tive que diminuir meus shows, e justamente um ano e meio de sua partida, ele me envia uma mensagem psicografada, aconselhando-me a mudar velhos hábitos. E eu obedeci. Escreveu também que o tempo dele foi aquele e que nós não ficamos nem um segundo a mais do que fora programado para ficarmos. Agradeceu que o aceitamos como filho mesmo sabendo que sua estada aqui na terra seria breve. Depois dessa mensagem ele enviou-me outras nove, todas confortantes.

Em 2010 operei e retirei dois minúsculos tumores malígnos de próstata, fiquei um mês sem ir ao centro espírita que frequento toda terça- feira. Na minha volta, Lucas me envia uma psicografia linda dizendo que eu teria que passar por isso, que tinha muita essência para dar ao meu próximo, que minha missão aqui era cantar, alegrar quem precisasse me ouvir e para não me preocupar porque o “Manto de Nossa Mãe Santíssima” estava me cobrindo. Meu Deus, que lindo!

Por mais que tenha conhecimento da doutrina espírita, segui minha vida, ainda “juntando os pedacinhos” de tantas coisas boas deixadas pelo Lucas. Quando meu filho Paulo Bueno adoece e começa a emagrecer, dizia estar comendo menos e adorando o que estava acontecendo, planejava até mudar seu guarda-roupa. Todos ficamos preocupados. E dá-lhe exames de sangue completos que acusaram uma pequena anemia. Ficamos aliviados, mas ele continuava a emagrecer... Até que desmaiou, fomos para o hospital, ele só piorando e após 21 dias de muita luta, Paulo partiu. Ele nos deixou no dia 30 de junho.

Cinco dias antes, no domingo 25, tinha ido ao Centro Espírita Professor Eurípedes Balsanulfo, na cidade de Batatais, e lá fui abençoado com mais uma linda mensagem do Lucas, em que ele fala da doença do irmão cujo desfecho não sabia, mas seja qual fosse ele estaria por lá. Lucas estava nos preparando para o que poderia acontecer com o irmão. Meu filho Paulo Bueno partiu, deixou dois filhos, esposa, pai e mãe e uma infinidade de amigos. Missão cumprida, meu filho. Vamos seguindo a vida por aqui, tentando juntar os pedacinhos de tudo que você nos deixou. Principalmente, amor, muito amor meu amado filho Paulo Bueno.

 

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CHAMAR DE PAI.

 

Erasmo Carlos compôs uma linda canção faz alguns anos. Foi gravada por ele e também pela cantora Marina e que eu adoro. Chama “Mesmo que seja eu”. Nesta semana, pensando sobre o que escrever em minha crônica, me veio esta música como lembrança. No refrão Erasmo escreveu: “Um homem pra chamar de seu, mesmo que seja eu...” Era o que me faltava como tema. Pensei logo no momento em que estou vivendo, daí surgiu a frase título “Um filho pra me chamar de pai.” Mais uma data significativa se aproxima, o Dia dos Pais.

É um dia como os outros, dia dos pais é todo dia, era o que sempre repetia para meus filhos. É apenas um motivo para movimentar o comércio. Tinha meus dois filhos amados do meu lado eu sempre os via esquentando a cuca pensando com o que me presentear. Queria poupá-los de despesas comigo, mas adorava quando ganhava, por mais simples que fosse, meu presente do Dia dos Pais. Hoje muito me emociona ao observar tudo ao redor e ver chegando o comemorado Dia dos Pais, os comerciais de TV sempre lindos e criativos nos mostrando o amor de pais e filhos. Eles me ferem a alma, rasgam meu peito, mas assim é a vida.

Por outro lado, também me fazem reviver tudo de maravilhoso que vivi na companhia de meus dois filhos, Paulo e Lucas Bueno. Agradeço a Deus pelos filhos que ele a mim confiou, e a certeza de que fui e sou um bom pai. Eles tiveram que fazer a viagem de volta ao mundo espiritual. Quando Lucas viajou – no próximo dia 17 fará 12 anos –, como espírita que sou, visitei vários centros espíritas na esperança de receber dele uma mensagem psicografada.  Recebia sim suas notícias, mas queria sua mensagem, sabia que tudo tinha seu tempo, mas não queria esperar. Esta minha espera durou um ano e meio, foi uma emoção sem tamanho receber sua primeira mensagem através da médium Marli Fabris, que me confortou sobremaneira. Depois vieram várias mensagens, de Marli Fabris foram várias, além de recados das médiuns Neusa Baldin, Claudia Ferraz, Arlinda... A de Marcelo, de Batatais, foi a última, todas esclarecedoras e confortantes.

A vida seguiu e sempre que tenho notícias sobre a morte de filhos, o que mais tenho vontade de fazer é ir de encontro dos pais e dar-lhes o mesmo colo que me deram e continuam dando. Naquele acidente da TAM em que faleceram quase 200 pessoas, um pai teve dois filhos que tiveram de partir. Quando vi seu semblante em uma reportagem, senti naquele momento um desejo louco de abraçá-lo bem forte e passar-lhe tudo que vivi depois da partida do Lucas. Muitos outros casos aconteceram e eu sentia a mesma coisa, mas estava escrito.

No dia 30 de junho meu filho Paulo Bueno também fez a grande viagem, é mais uma dolorosa experiência que estou passando, mas não sou o único. Faz duas semanas, num acidente numa cidade mineira, dois jovens de Ribeirão Preto tiveram que partir também, senti o mesmo desejo, visitar os pais e levar meu carinho. Descobri que um dos pais é Aldo, proprietário do Feijão Carunchão.

Cinco dias depois minha esposa sugeriu que fossemos até ele. Foi emocionante quando o encontramos, foi um abraço muito forte e ele disse, que se eu não tivesse ido ao seu encontro, ele viria me procurar. Conversamos muito e o colo que pensei em lhe dar, eu é que acabei recebendo. Aldo é uma pessoa iluminada, estar perto dele é um prazer. Voltando ao festivo Dia dos Pais, a saudade aflora ainda mais, sei que meus dois meninos estarão comigo, muito embora não vou poder vê-los, nem ouvi-los, nem tocá-los... Quero me lembrar deles ainda crianças, me presenteando... Ah ! Mas como eu gostaria de ter aqui um filho para me chamar de pai...

 

 

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O OUTRO LADO DO CAMINHO...

 

 

BUENO, SÔNIA E PAULO ROBERTO. MOMENTOS DE UMA VIDA FELIZ.

 

 


 

 

TANTO RISO, OH, QUANTA ALEGRIA!

 

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A ÚLTIMA ROSA.

 

 

A força que tem meu netinho Kauã, de apenas 8 anos, me faz pensar uma infinidade de coisas que vão além do que posso imaginar. Caso contrário como explicar seu comportamento após a partida de seu papai, numa fase de sua vida em que tanto precisa dele? Fico pensando de onde vem tamanha valentia, tamanha serenidade para encarar a situação? Com certeza, seus anjos de guarda estão a cercá-lo de proteção e preparando-o para tudo.

Imagine você que está habituado a ler minhas crônicas aqui no nosso Jornal Tribuna Ribeirão: por mais que eu queira não mais tocar no assunto, alguma coisa me conduz a escrever mais uma vez sobre a partida de meu filho amado, Paulo Bueno, aos 42 anos.

Todos sabem que faz 12 anos que meu filho mais novo, Lucas Bueno, teve que partir. Paulo, diferentemente do irmão, nada tinha a ver com o lado artístico, suas qualidades eram outras. Era ele quem me ensinava a conhecer melhor meu computador, ele tinha enorme talento para descobrir o desconhecido e tudo numa rapidez que me fazia tirar o chapéu.

Era ele quem montava CDs de músicas gravadas de meus shows ao vivo e armazenava tudo no meu computador, tirava as canções de uma pasta, colocava todas em sequência e as gravava, tudo numa rapidez impressionante. Assim minha vida seguia, com ele sempre por perto, mesmo morando à dois quilômetros de casa.

Quando Lucas partiu, disse a Paulo em certa noite, ao nos despedirmos. “Eu e sua mãe só temos vocês, tome conta da gente, ok, meu filho?” Ele, com lágrimas nos olhos, disse: “Pai, é tudo que quero fazer”. De repente, aquele homem de 1,93 de altura e 135 quilos fica doente. Eu acreditava que seria uma coisa passageira. Ele não fumava, nunca bebeu, estava tranquilo até o dia em que precisou ser internado. Começava ali mais uma triste etapa de minha vida…

Foram tantas idas e vindas até o Hospital Ribeirânia que decorei cada defeito, cada ondulação da pista da avenida Francisco Junqueira. Foram 21 dias de UTI – e como é triste aquele ambiente! Tanto que Paulo chegou a nos pedir para tirá-lo de lá. E nós o tiramos, ele foi para o quarto, mas teve que voltar. Dois dias antes de partir voltou para o quarto, em momento algum perdemos a esperança de sairmos de lá com ele completamente recuperado.

Mas como tudo em nossas vidas está programado… naquela noite de 29 de junho, sozinho em casa, eu não conseguia dormir. Veio a madrugada de 30 de junho e minha esposa, que havia passado a noite com ele, por volta das cinco da manhã me ligou pedindo para ir até lá, pois sentia Paulo estranho. Era seu coração de mãe pressentindo o que estava por vir. Ficamos olhando para ele, que fazia algumas perguntas, e de repente o vimos partir. Tentaram reanimá-lo por horas, mas ele já tinha nos dito até mais. Que pancada acabávamos de levar.

Fiquei sem chão, liguei na hora para José Fernando Chiavenatto, jornalista amigo-irmão que em minutos estava lá e cuidou de tudo, tudo, tudo. Pôxa! Que amigo tenho, que amigo Deus me deu! Eu me preocupava com minha esposa, minha nora, meus netos, principalmente o mais novo, nosso pequenino Kauã. A mãe dele falou: “Ele está preparado”. E estava! Tanto que ficou sobre uma cadeira ao lado do caixão do pai.

Acompanhando o cortejo, alguém me deu uma rosa. Já no túmulo, Kauã jogou muitas flores e rosas despedindo-se do papai, até que eu disse: “Acabaram as rosas”. Restava a minha, que lhe passei e ele a jogou sobre o caixão de seu papai. Foi a última rosa…

 

Dias depois ele pediu a sua mamãe que o levasse até onde seu papai estava. Foram os três, ele em silêncio observou tudo, nada falou, nem perguntou. Já vai fazer três meses e nunca o vi chorar, é um ser especial. Apenas diz: “Meu pai fazia isso, meu pai fazia aquilo…” A vida segue e eu levarei sempre comigo a imagem de Kauã jogando a última rosa.

 

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DIA DOS PAIS DE 2020.

 

Mais um Dia dos Pais e eu aqui, pensando no tema de minha crônica semanal, é tanta coisa, mas nem sei por onde começar. Ontem, em casa, ouvindo o sambista carioca Can­deia cantando “Testamento de partideiro”, um samba partido alto de sua autoria que cantei muito lá no Ponto Chic, veio um sopro de inspiração.

Ninguém conhecia o samba, mas gostavam muito dele, perguntavam de quem era e até pediam bis. Voltei à faixa várias vezes para ouvir o começo, que diz: “Pra minha mulher deixo amor sentimento, e para os meus filhos deixo um bom exem­plo, deixo como herança força de vontade, quem semeia amor deixa sempre saudade… Pros meus amigos deixo meu pandei­ro, honrei os meus pais e amei meus irmãos, aos fariseus não deixarei dinheiro, e pros falsos amigos deixo meu perdão…”

Esses versos de Candeia são de uma preciosidade sem tamanho, mas a frase que me arrepia é “Honrei os meus pais e amei meus irmãos”. Poxa, como é forte este verso! Até perdoa os falsos amigos! Grande Candeia. Já fui à casa de muitos sambistas para ensaios e observava o amor entre pais e filhos. Lugares humildes, mas o amor e respeito entre eles me fazia tirar o chapéu. Às vezes ia buscá-los para tocar e os via pedir a benção dos pais e avós ao sair. Digo isso porque convivi muito mesmo com isso e a letra de Candeia me fez voltar no tempo.

Sou membro do maravilhoso grupo carioca “Confraria do Chapéu Panamá”, que se reúne aos sábados na Rua do Ouvi­dor, na Lapa boêmia, centro velho do Rio de Janeiro. Ainda não tive o prazer de passar uma tarde com eles, pela distância que nos separa, mas vejo as fotos e fico babando. Todos de chapéu Panamá. Ali estão pessoas das mais diversas profis­sões cultuando o delicioso gosto por esta elegante cobertura. Ainda vou chegar naquele pedaço e matar meu desejo.

Dia desses, um deles postou que o velho compositor e can­tor Nelson Sargento, hoje com mais de 90 anos, estava passan­do o maior perrengue devido à paradeira de shows. Um amigo estava organizando uma vaquinha virtual, e na hora danei a pensar: “Mas como?” Não sei de sua vida, mas e o que ele ame­alhou em sua trajetória e que poderia ser seu sossego? Cadê seus filhos, seus netos? Eles devem ter desfrutado do tempo bom… Bem, só sei que uma página da MPB como Nelson Sar­gento deveria ter, nos dias atuais, o acalanto dos seus.

Ser pai é um privilégio que Deus nos dá e cumprir essa missão é uma batalha. Mas, é uma delícia de batalha. Quando lembro o que meu pai passou para cumprir a sua, cada vez mais eu o vejo como meu verdadeiro herói. Ele criou seis filhos honestos. O velho Roy era dado a fazer versos sertane­jos, usava chapéu de feltro, e talvez tenha herdado dele meu gosto por chapéus. Gostava de moda de viola e eu, da Jovem Guarda, tocava guitarra e cantava no conjunto “The Jetsons”. Imitávamos Renato e seus Blue Caps aos domingos, na Rádio PRA-7 (hoje Clube), e minha mãe me dizia que os olhos dele brilhavam de orgulho me ouvindo cantar lá de casa.

Quando meus filhos chegavam em casa e diziam “oi, pai”, dentro de mim acontecia algo que não sei explicar, era só agradecimento ao meu bom Deus por ouvir duas pequenas, mas mágicas palavras, “oi, pai”. Sinto o mesmo hoje quando meus netos chegam e me dizem “oi, vô”… Eu me derreto.

Uma imagem que não sai de meu pensamento é o rosto do meu pai segurando meu filho Paulo, ainda bebê. Ele olhava seu netinho e olhava pra mim, não falava nada, e nem precisava. Era a magia da continuação. Só descobri o que o velho Roy sentia quando segurei meus netos Luiz e Kauã nos braços.

Ser pai ninguém nos ensina, aprendemos na labuta diária. Problemas? Quem não os tem? Nos serve como aprendizado.

Oh, seu Roy, meu velho pai, que honra ter sido seu filho.
Paulo e Lucas Bueno, que maravilha ter sido pai de vocês.
Meus amigos, desejo a todos um feliz Dia dos Pais.

 

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AH, MARINGÁ, QUE SAUDADE!

 

 

A EXUBERANTE MARINGÁ, CIDADE CANÇÃO.

 

Na época em que acontecia o desbravamento do país, bati­zavam-se os rios e em suas margens erguia-se um povoado, que acabava ganhando o mesmo nome. Isso aconteceu aqui em Ribeirão Preto e na grande maioria das cidades brasileiras.

Vendo fotos da belíssima Maringá, cidade paranaense conhecida como “Cidade Canção”, lembrei-me de que nem sei quantas vezes cantei essa composição de Joubert de Carvalho, sem me atentar para sua possível história, Então, comecei a matutar a letra desta música. Como é que pode esta músi­ca, cuja letra retrata a seca nordestina e o sofrimento de seu povo, ter sido feita para uma cidade paranaense onde tudo é o oposto do que está escrito?

Fui fundo e passo aqui para quem tem o hábito de me acom­panhar um resumo dos causos. Em 1931, o maravilhoso compo­sitor Joubert de Carvalho foi procurado pelo amigo Rui Carnei­ro, que era oficial de gabinete do então ministro da Marinha, José Américo. Ele pediu para que fizesse uma música que retratasse a o sofrimento do povo onde viveu e teve que se mandar por causa da seca descomunal. Dizia ser mais um retirante.

Joubert pediu mais detalhes e Rui contou que, na pequena cidade de Pombal, sertão da Paraíba, o povo vivia dos pés de ingá, os chamados ingazeiros. Numa de suas ruas morava com os pais Maria do Ingá, uma caboclinha de cor morena. Sua pele queimada do sol fascinava a todos, olhos e cabelos negros, corpo bem feito, enfim, era dona de uma beleza que inspirava ardentes paixões.

 

POMBAL-PB, AS ORIGENS DA BELA CANÇÃO.

 

Para Joubert de Carvalho, este farto material foi mamão com mel, ele viajou na paixão do amigo e compôs esta maravilha, fazendo a junção de Maria do Ingá, resultando em Maringá que, cá entre nós, ficou até mais musical. A Rádio Nacional do Rio de Janeiro, que era ouvida no Brasil inteiro, fez sua parte e a música estourou nacionalmente.

Por volta de 1940, o norte do Paraná começava a ser povo­ado e a Companhia de Melhoramentos Norte do Paraná tinha como chefe de escritório o senhor Raul da Silva, comandante de muitos mateiros. Com seus machados e facões nas mãos, iam desbravando e colocando nomes nos rios. Eram tantos rios que faltavam sugestões, e chegaram a colocar até nome do cigarro “Fulgor” num deles. Já tinham nomeado o Rio Astorga, em cuja cidade nasceram Chitãozinho e Xororó, Tibagi, Marialva, Man­daguari e muitos mais.

Entre os mateiros, conta-se que um deles, embalando o filho numa rede, cantarolava a canção “Maringá, Maringá”. Esta mú­sica também era a preferida do chefe Raul da Silva e sua esposa. Ao chegarem às margens de um rio que ainda não tinha nome, Raul da Silva tascou ali uma placa com o nome Maringá, hoje a belíssima cidade paranaense.

Aqui vai a letra de “Maringá, Maringá”: “Foi numa leva que cabocla Maringá, ficou sendo a retirante que mais dava o que falar, e junto dela veio alguém que suplicou, pra que nun­ca se esquecesse do caboclo que ficou… Maringá, Maringá, depois que tu partiste, tudo aqui ficou tão triste, que eu garrei a imaginar… Maringá, Maringá, pra ter felicidade é preciso que a saudade vá bater noutro lugar, Maringá, Maringá, volte aqui pro meu sertão, pra de novo o coração de um caboclo assossegar… Antigamente uma alegria sem igual, dominava aquela gente da cidade de Pombal, pois veio a seca toda chuva foi embora, só restando então as mágoas de um caboclo quan­do chora… Maringá…”

 

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PROF. GILBERTO DA COSTA FERREIRA - HISTORIADOR, ESCRITOR E PESQUISADOR.

cfgilberto@yahoo.com.br

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Mestre Gilberto | 04/10/2020
Meu mestre Gilberto, como sempre você desfila seu enorme bom gosto, nas minhas postagens, Deus te abençoe sempre...
Bueno

De muito bom gosto | 19/09/2020
Caro amigo Gilberto, revisitando a página que você com muito carinho e amor, dedicou a este cantador, digo que fiquei encantado com tudo que vi e li, você é um ser humano de primeira, muito obrigado amigo.
Bueno

Presente Divino | 08/10/2018
Caro amigo escritor Gilberto, revisitando sua obra mais uma vez fiquei emocionado, não tem como não ficar, muito obrigado pela fidelidade e carinho com tudo que faço meu amado irmão. Para o compositor que batalha para divulgar sua obra, encontrar uma alma pura, carinhosa como a sua, é um presente divino. Deus te proteja sempre meu irmão...
Roberto Sebastião Bueno

Você meu amigo de fé, meu irmão camarada... | 15/04/2017
Gilberto querido amigo, não tenho como lhe agradecer por tanto carinho e por dedicar-me espaço em sua página. Emocionei-me várias vezes e sempre que a visito, lágrimas surgem como que por encanto. Peço a nosso bom Deus que o proteja sempre, para que continue levando a todos que o seguem, um alento como faz comigo. Baitabraço querido amigo...
Roberto Sebastião Bueno


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