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HENRIQUETA VIALTA SAAD

A ETERNA GLÓRIA DE VIVER PARA SERVIR.

 

 O INÍCIO DE TUDO...

 

O ano de 1929 foi, dentre todas as notícias importantes que correram o mundo, aquele marcado pela Queda da Bolsa de Nova Iorque, onde, como consequência, comprometeria todos os países de todos os continentes em uma catástrofe financeira sem precedentes. Nesse mesmo ano nascia Annelies Marie Frank, mais conhecida como Anne Frank, uma das vítimas do holocausto. O mundo ainda seria marcado pelo nascimento de Martin Luther King Jr, mais tarde, grande líder americano de direitos civis, sendo agraciado com o Prêmio Nobel da Paz em 1964 e assassinado em 1968.

Também em Tremembé-SP, uma pequena, mas aconchegante cidade do Vale do Paraíba Paulista acolheria em seu seio sua mais nova habitante: Henriqueta Vialta. Era um domingo de sol, no limiar da primavera brasileira de 1917, mais precisamente no dia 29 de setembro. Aquela aprazível cidade a receberia de maneira festiva e com as bênçãos do Senhor Bom Jesus, pelo seu nascimento. De família humilde, seus pais, João Vialta e Anselma Tursi Vialta eram imigrantes italianos.

 

ITÁLIA, BERÇO DE SEUS PAIS.

 

Ele de Genova, cidade com importante porto marítimo. Ela, de Mantova, onde, segundo a tradição cristã, conserva na cripta da Basílica de Sant’Andréa Apóstolo o “cálice sagrado” que contém o sangue de Jesus. A história diz que no momento do sepultamento o centurião romano Longino quis certificar-se que Jesus estava realmente morto. Para isso ele perfurou o corpo de Jesus com uma lança e o sangue, atingindo-lhe os olhos, curou-o imediatamente de uma doença. Naquele momento Longino reconheceu Jesus como filho de Deus.  Arrependido, ele apanhou um pouco do sangue de Jesus que tinha caído na terra e levou consigo abandonando o exército romano. Por ter se tornado um monge, Longino passou a ser perseguido, tendo sido condenado e executado, mas, antes, escondeu a relíquia. Anos mais tarde a relíquia foi encontrada, confirmada e reconhecida pelo Papa Leão III. Por ter se tornado um monge, Longino passou a ser perseguido, tendo seus dentes arrancados e sua língua cortada. Anos mais tarde a relíquia foi encontrada e confirmada pelo Papa Leão III. Atualmente, na sexta-feira santa o cálice sagrado é exposto à visitação na Basílica de Sant'Andrea em Mantova. Longino é o nosso querido São Longuinho, o santo das coisas perdidas.

 

PORTO DE GÊNOVA.

 

INTERIOR DA BASÍLICA DE SANT'ANDRÉA APÓSTOLO.

 

Agricultores da ainda jovem Tremembé, desmembrada que fora de Taubaté em 1896 e elevada à categoria de cidade em 1905, era o que poderíamos definir como uma família feliz, composta de onze filhos. Henriqueta era uma bonita moça, de hábitos prendados, religiosa, educada, e de família relacionada à Colônia Italiana de Quiririm, berço de imigrantes. Nascida aos 29 de setembro de 1917 em Tremembé-SP, ainda jovem se mudaria com sua família para a Fazenda Sabará, localizada no Bairro Tataúba, em Caçapava-SP.

 

A JOVIALIDADE MARCADA PELO ENCANTO.

 

Naquele pedaço abençoado compartilharia com seus irmãos Jorge, Mariquinha, Margarida, José Anacleto, Antenor, Ricardo, Orlando, Niete, Enedina e Araci, o encanto e a felicidade, de um tempo que, sabiam eles, não voltaria jamais. Também naquela cidade, contemplaria todo o florescer de sua juventude e conheceria Miguel Saad, o grande e único amor de sua vida e com o qual conviveria por longos 45 anos. Seria uma longa caminhada de sacrifícios, de lutas incessantes e de muito amor ao trabalho que ambos desempenhariam. Casar-se-iam em Taubaté-SP aos 31 de julho de 1935, conforme Certidão de Casamento de nº 4939, Fls. 139, Livro 32, celebrada pelo Juiz de Paz, Cyrillo Rodrigues Silva.

 

MIGUEL TEMER SAAD.

 

Nascido Moukhaiber Tamer Saad era filho de Temer Saad e de Tamine Saad. Era único filho homem daquela família composta de mais três irmãs, Naif, Samira e Negime. Durante sua juventude em seu país de origem se relacionaria com uma jovem síria, advindo desse romance um filho de nome Esper (pronuncia-se Ísper).

Seu pai, um militar do Exército Sírio, preocupado com os intermináveis conflitos existentes naquela região, embarcou-o no Porto de Gênova-Itália com destino ao Brasil, aos 05 de dezembro de 1928 com escala em Nápoli-Dakar-Rio de Janeiro-Santos, aqui chegando aos 21 de janeiro de 1928, ocupando a cabina nº 698, leito 67, do Navio Colombo, de Bandeira italiana.

Miguel Saad nascera aos 26 de janeiro de 1909 em Mitbet, uma pequena aldeia da localidade de Masha al-Helu, Distrito de Safitah, da histórica e bela Síria. Mashta al-Helu é uma cidade e resort no noroeste da Síria, administrativamente parte da Tartus Governorate, localizado a 35 quilômetros a leste de Tartus.

A aldeia está localizada em uma área arborizada no meio das montanhas An-Nusayriayah, a cordilheira da costa síria.  De acordo com a Síria Escritório Central de Estatísticas (CBS), Mashta al-Helu tinha uma população de 2.458 no censo de 2004. É o centro administrativo da Mashta al-Helu nahiyah (sub-distrito) do Distrito Safita que continha 19 localidades com uma população coletiva de 12.577 em 2004. Seus habitantes são predominantemente cristãos. A cidade tem uma altitude de 465 metros acima do nível do mar.

 

O BILHETE DE EMBARQUE.

 

A Síria, oficialmente denominada República Árabe da Síria é um país situado no Sudoeste Asiático, determinando como fronteiras, ao norte pela Turquia, ao Sul pela Jordânia, ao leste pelo Iraque, ao oeste pelo Mar Mediterrâneo e pelo Líbano, e, ao sudoeste por Israel.

 

A LOCALIDADE DE SAFITA, AO NOROESTE.

 

A Bandeira Síria tem como significado na parte vermelha, o sangue do conflito para sua liberdade; na parte preta encontra-se representada a escuridão de seus tempos sombrios; e, na parte branca, a paz que se conquistou depois disso. As duas estrelas verdes significam os dois únicos pontos de vegetação no país. No parágrafo 1º do artigo 6º da Constituição Síria está inserida sua criação.

 

A BANDEIRA, COMO SEU MAIOR SÍMBOLO.

 

Miguel Saad veio com destino certo à cidade de Campos do Jordão-SP, a conhecida “Suíça Brasileira”, onde seu tio Nassin e seu primo Abrahão estavam estabelecidos. Foram eles que o recepcionaram no Porto de Santos. Em Campos do Jordão começaria a trabalhar numa olaria, na qual seu tio era proprietário e com ele desempenharia sua primeira ocupação.

Permaneceu por algum tempo nessa atividade, entretanto, em virtude das dificuldades encontradas para adaptação da língua portuguesa era alvo de gozações por parte de funcionários e fregueses. Aborrecendo-se, não teve alternativa senão de procurar outra ocupação. Mudando completamente de ramo comercial e utilizando-se da economia que fizera, comprou meias, tecidos e miudezas, passando então a negociar pelas redondezas daquela cidade, estabelecendo-se mais tarde em Santo Antonio do Pinhal. Ainda sem conhecimento do comércio, tão logo se transformaria num hábil comerciante em toda a região, proprietário que era de uma charrete, veículo com o qual seria o ponto de partida para seu progresso e o encontro em definitivo com o destino.

 

COM SUA CHARRETE DE RODAS DE FERRO E O COMEÇO DE UMA VIDA DE LUTAS E SOFRIMENTOS.

 

Nessa nova profissão, agora como vendedor e viajando constantemente às cidades vizinhas, uma transformação acabaria por acontecer em sua vida. Na loja de seu tio em Caçapava, antiga instação do Cine Brasil, conheceria Henriqueta, a esposa com a qual compartilharia durante toda uma vida de entrega e de amor, o dia a dia de conhecimentos e afeição.

Agora, Miguel Saad se dedicaria à entrega total, à labuta do comércio diário e principalmente à família que acabara de construir. Com a família estabelecida em Caçapava, Miguel Saad torna-se sócio com seus primos, da Loja Minerva. Depois, desfazendo-se da sociedade, muda-se com sua família de Caçapava para Taubaté, passando a residir em uma casa alugada na Praça Monsenhor Silva Barros nº 99, bem próximo da casa do judeu russo Leone Marchtein (pessoa de saudosas lembranças e portador de um coração extremamente bondoso). Nessa mudança, feita pelo cunhado José Vialta, proprietário de uma "frota" de dois caminhões transportaria o resto do estoque que lhe coube em um caminhão, com ênfase para um fato curioso – no transporte perder-se-ia muita mercadoria pelos caminhos que caíra do mesmo.

Sempre visando o melhor para sua família e com espírito empreendedor comercial fora do comum, Miguel Saad se estabeleceria com sua primeira loja “A Triunfante” situada à Rua Cel. Jordão nº 109. Mais tarde, na mesma Rua com Praça Dom Epaminondas, seria proprietário da “Casa São Bento”. Prosseguindo na dura e árdua missão de chefe de família e em uma época de transformações econômicas, Miguel se mudaria novamente para a casa de nº 105, ainda na Praça Monsenhor Silva Barros. Tempos depois, fixaria residência à Rua Capitão Cirilo Lobato nº 282, também em outra casa alugada e bem defronte ao Convento de Santa Clara.

Nessa nova moradia a Família Saad faria parte dos fiéis que se dirigiam àquele templo religioso com uma constância de propósitos, e que mais tarde seriam fundamentais para a formação do caráter de cada filho. Detalhes à parte, Dona Henriqueta, sempre residindo nas proximidades de templos religiosos, era devota fervorosa de Nossa Senhora de Fátima e de Santa Terezinha.

Henriqueta, uma cozinheira de grandes predicados e sempre portando o impecável avental de cozinheira, ajudava na despesa da casa, produzindo lanches e deliciosos salgados para serem vendidos em dias de jogos defronte ao portão principal do antigo Campo do Bosque, o Estádio do E.C. Taubaté, venda essa que tinha como vendedor seu filho Arnaldo, aliás, não por mera coincidência, seu melhor freguês.

 

ANTIGO CAMPO DO E.C. TAUBATÉ NA PRAÇA MONSENHOR SILVA BARROS. 

Excelente dona de casa, sabia cozinhar como ninguém, tendo como prato favorito, massas e era apaixonada pela comida árabe, notadamente Kibe. Gozava de ótima saúde e gostava de comer de tudo. Sua sempre grande e entusiasta alegria era poder compartilhar em tudo com sua família e com seu semelhante. Servir era sua razão de viver. E daquela alegria de viver e de servir, vivia dela e para ela.

Anos mais tarde, a família Saad ganharia uma nova residência estabelecida à Rua Dr. Pedro Costa 625. A ela caberia a tarefa de, como dona de casa e mantenedora de uma família que começara a se formar, a se dedicar às incontáveis canseiras do dia ao bem estar de seus queridos filhos que, com os anos seguintes, se tornariam realidade. Arnaldo, Maria Aparecida, Antonio Carlos, Miguel, Zeine, José Francisco, Tadeu, Fátima e Jorge compunham a verdadeira família que todos nós conhecemos. Por todas as andanças nas casas em que residiram, seus cômodos deixaram rastros de saudades, de histórias, de ternuras e de amores, que redundaram em quarenta e cinco anos de vida a dois, num misto de alegria e de tristeza. Alegria por terem visto seus filhos crescerem e se tornarem pessoas de bem. Tristeza, por vê-los saírem um a um para a formação de novas famílias, constituindo assim, seus lares, tudo isso como uma rotina de vida.   Entre eles houve muita renúncia a passeios e lazeres.

Suas vidas foram dedicadas ao trabalho, à criação e educação dos filhos, numa luta desigual, porém, com a realização de um sonho e do dever cumprido. Seus filhos seguiriam os estudos para suas completas formações. Arnaldo se formaria em Engenharia Mecânica; Maria Aparecida em Magistério, tornando-se uma Professora de muitos predicados; Antonio Carlos tornou-se Técnico em Contabilidade e seria conhecido como hábil comerciante, seguindo os passos de seu pai; Miguel optaria por Filosofia em Matemática; Zeine seguiria os caminhos de sua formação profissional em Biologia, da qual me honro, por ter sido no ano de 1984 seu aluno no curso de Educação Física; José Francisco tal como Miguel se graduaria em Filosofia em Matemática; Luiz Tadeu formou-se em Ciências Contábeis; Fátima com formação em Ciências Humanas, ainda concluiria Educação Física, tornando-se dedicada professora; Jorge caçula da família seria o único a se tornar um competente Engenheiro Civil, professor de matemática e desenho e um dos coordenadores da Escola Saad, e, a ele Jorge, toda minha gratidão, por ter em um dia de 1983 me estendido as mãos.

Anos depois, Miguel Saad e Henriqueta visitariam a Síria, lugar de tantas lembranças para ele e de memórias inacabadas para ambos.  Ali, aconteceria o reencontro de pai e filho e o feliz momento com a segunda geração do neto querido que ainda não conhecera.

 

 NA SÍRIA AO LADO DA ESPOSA, NO REENCONTRO COM O FILHO ESPER E SEU NETO.

 

NO SÍTIO QUE UM DIA DEIXARA PARA TRÁS, CONTEMPLANDO O LINDO POMAR.

 

O DESENLACE DE UMA UNIÃO FELIZ...

Um dia chega a hora de dizermos adeus àqueles que tanto amamos e que partem deixando saudades para todos nós, porque criamos laços afetivos, sentimentos profundos e amor infinito. Conviver com o casal Henriqueta e Miguel Saad foi maravilhoso sob todos os aspectos, principalmente pelo legado que deixaram. Foi assim o triste destino da separação que um dia juraram amor eterno. O falecimento de Henriqueta ocorreu aos 09 de junho de 1981, uma terça feira cinzenta do outono brasileiro em Taubaté-SP. Naquele dia todos ficamos emudecidos pela inesperada notícia, causando-nos profundo pesar. Logo, vieram-me as recordações de quando frequentava sua casa na Rua Dr. Pedro Costa, quando, na parte da tarde me ofereciam um gostoso café com leite acompanhado de pão com manteiga. Miguel nos deixaria anos mais tarde, aos 25 de outubro de 1985, uma sexta-feira da primavera brasileira. Estão sepultados no Jazigo da Família Saad, nº 778-A, na 3ª Quadra do Cemitério Municipal de Taubaté.

Em suas homenagens póstumas, constam lembranças de gratidão da população taubateana com denominações de logradouros e edificação cultural, como a Rua Henriqueta Vialta Saad, localizada no Jd. Bosque dos Eucaliptos, em Tremembé-SP, Rua Henriqueta Vialta Saad, no Bairro Água Quente, em Taubaté-SP e a Escola de Educação Infantil, Fundamental e Ensino Médio Henriqueta Vialta Saad, um dos pilares educacionais situada na Vila São Geraldo, Taubaté-SP e uma realidade brasileira. Miguel receberia como homenagem póstuma a denominação de uma Avenida com seu nome no Parque Flamboyant. É um pouco da cidade de Taubaté àqueles que por aqui passaram e deixaram um pouco de si às gerações passadas, presentes e vindouras. 

 

UM SONHO QUE SE TORNOU REALIDADE...

Henriqueta sempre sonhara em que seus filhos pudessem um dia construir uma escola e que todos ali se empenhassem, tendo em vista a paixão pelos estudos que todos demonstravam. Esse sonho viria a ser concretizado com a compra de uma área pertencente a Joaquim Soldado. Para tanto, seus filhos Antonio Carlos, Arnaldo e Miguel venderiam tudo o que tinham inclusive seus carros, para a realização de tão almejado desejo.

Resolutos, decididos e arrojados, deram início ao ambicioso projeto, com suor, denodo, coragem e ousadia. Ao final da empreitada e à consagração de suas lutas, dedicariam àquele local como homenagem póstuma àquela que tanto amaram a denominação de “EEIFM Henriqueta Vialta Saad”, matriarca da Família Saad.

 

ESCOLA SAAD “UM PONTO DE PARTIDA NO ENSINO DE GERAÇÕES”

 

ESCOLA SAAD "UM PONTO DE PARTIDA NO ENSINO DE GERAÇÕES"

 

A Escola Saad nasceu há mais de 30 anos em Taubaté-SP, fruto da vontade de três irmãos, Arnaldo, Miguel e Antônio Carlos, de proporcionar uma educação de qualidade aos seus descendentes. Começaram com uma escola pequena, com apenas cinco salas de aula, uma cantina e uma quadra, mas o tempo e a confiança dos pais na boa formação oferecida aos seus filhos fez com que a escola crescesse muito.

Hoje o Colégio Saad atende mais de 600 alunos e possui cerca de 20 salas de aula, laboratório de informática, laboratório de química e biologia, salas de filosofia, inglês, dança, judô, sala multimídia, biblioteca, salão de festas, quadras, ginásio poliesportivo e um Centro de Estudo e Lazer para crianças a partir de 2 anos de idade.

 

Requiescat in pace, queridos amigos! Até um dia.

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PROFº. GILBERTO DA COSTA FERREIRA - HISTORIADOR, ESCRITOR E PESQUISADOR. 

cfgilberto@yahoo.com.br

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Amados avós. | 14/06/2019
Excelente artigo contando a história de meus amados avós, que tanta falta nos faz. Parabéns à História em Evidência. Que você seja abençoado sempre.
Cibele

Uma história fascinante. | 14/06/2019
Gilberto, sob os acordes de lindas canções que nos levam além, mas, nos levam além mundo, tocou-me profundamente essa fascinante história da família Saad. A sua simples descrição facilita e nos conduz para o interior vivido pelos Saad e Vialta. Parabéns, historiador Gilberto!
Horton Sidnei Cunha.


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