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FRANCISCO DE MORAIS ALVES (CHICO ALVES)

 

 

O ADEUS AO REI DA VOZ.

 

 

"Tu, só tu madeira fria, sentirás toda a agonia do silêncio do cantor".  (David Nasser).

 

Dos pontos extremos do Brasil, da nascente do rio Ailã, no Monte Caburaí, no Estado do Acre a uma das curvas do Arroio Chuí, no Estado do Rio Grande do Sul e da Ponta do Seixas, em João Pessoa, no Estado da Paraíba à Serra de Contamana, no Estado do Acre, o Brasil chorava a perda de seu maior cantor seresteiro, Francisco de Morais Alves.

Filho dos imigrantes portugueses José Alves, dono de um botequim e de Isabel Morais Alves, nascera à Rua Conselheiro Saraiva nº 3, próximo ao Arsenal da Marinha e compunha uma família de cinco irmãos com Ângela, Lina, Carolina e José. Francisco Alves, o “Chico Alves” como era conhecido e assim iremos tratá-lo adiante, ainda moço, logo teria a trajetória de sua vida fadada ao sucesso. Com as mortes de seu irmão e de seu pai, respectivamente em 1918 e 1919 atingidos pela gripe espanhola que assolava o país, bem como o casamento de suas irmãs, fizeram-no morar com sua mãe.

Com uma infância toda ela voltada ao trabalho, ainda menino exerceria a profissão de engraxate, com o propósito de ajudar sua família que passava por dificuldades financeiras. Estudante irrequieto e inimigo dos livros completou o primário, com lembranças distintas de suas professoras, a sempre atenciosa e querida Odete, e Marta, esta, a quem detestava porque dizia que Chico era nome de macaco. Tempos depois, mudara-se com sua família para próximo de um Batalhão de Polícia, e ali costumava acompanhar os ensaios da banda de música daquela Corporação.

 

EM MOMENTO FELIZ COM SUA IRMÃ ÂNGELA.

 

Sua irmã Lina, atriz de revista e radioatriz que adotara o nome artístico de Nair Alves, lhe presentearia com um violão e algumas lições. Decididamente, a música entrara em sua vida! Chico Alves fora um trabalhador brioso e incansável como engraxate, como cantor nas ruas do Rio de Janeiro das músicas de seu maior ídolo Vicente Celestino, como operário em duas fábricas de chapéus, e, por fim, como chofer de táxi.

Aos 18 anos decidira ser cantor, fazendo seu primeiro teste com o maestro Antonio Lago, pai do ator e compositor Mário Lago e após aprovado, procurou pelo barítono Sante Athos tomando aulas de canto por três meses. Em 24 de maio de 1920 enamora-se de Perpétua Guerra Tutoya, a “Ceci”, a quem conhecera num cabaré do bairro da Lapa. Segundo confessara, seu casamento acontecera num “momento de loucura”, durando apenas uma semana. Depois, encontraria o grande amor de sua vida, Célia Zenatti, dançarina e atriz de revista, vivendo durante 28 anos de uma união feliz, até encontrar a jovem professora Iraci, com a qual ficou até o último dia de sua vida.

Nacionalista extremo, grava em 1944, a Canção do Expedicionário, em homenagem aos Pracinhas da Força Expedicionária Brasileira que lutavam na Segunda Grande Guerra Mundial.

 

 

Seus grandes sucessos ainda ecoam em nossos corações, como “Fita Amarela”, “Serra da Boa Esperança”, “Canção da criança”, "Malandrinha", “A mulher que ficou na taça”, “Adeus, cinco letras que choram”, “Boa noite amor”, “Se você jurar”, “Aquarela do Brasil”, “Eu sonhei que tu estavas tão linda”, “Caminhemos” "Confete" e “Nervos de aço”, dentre outras.

 

 

 

 

 

         

Em toda sua vida Chico Alves ajudara entidades assistenciais do Rio de Janeiro, tendo em 03 de setembro de 1952, gravada “Canção da Criança” uma canção inédita que contava com o coral das Meninas da Casa de Lázaro, com toda a renda revertida para aquela entidade assistencial.

 

O AMOR PELAS CRIANÇAS DO BRASIL.

 

No dia 27 de setembro, um sábado ensolarado, Chico Alves apresentara-se às 14.00 horas em um Show no Largo da Concórdia, no Bairro do Brás, em São Paulo. Dessa maneira dirigia suas palavras aos milhares de fãs que ali se encontravam: "Meus amigos, é com imenso prazer que estou aqui no Largo da Concórdia, cantando para todos vocês alguns números do meu repertório, com o primeiro número, o samba Caminhemos...". Estava feliz e interpretaria cinco lindas canções, pela ordem, "Caminhemos", "Canção da Criança", "Quando eu era pequenino", "Confete" e "A voz do violão". Na oportunidade em que anunciou Canção da Criança, o fez de maneira eloquente e entusiasta, pedindo à numerosa platéia presente no Largo da Concórdia que colaborassem com as crianças, da mesma maneira que estava fazendo em prol daqueles que necessitam bastante, que eram as crianças pobres do nosso Brasil. E mais uma vez enfatizava: "Ajudem as crianças...".

Entretanto, quis o destino que sua voz se calasse para sempre naquele mesmo dia por volta de 17.40 horas, na Rodovia Presidente Dutra, em Pindamonhangaba, próximo à divisa de Taubaté.

 

 LOCAL DO ACIDENTE MARCADO POR UMA CRUZ, UM VIOLÃO E A SAUDADE.

 

O acidente, segundo consta em depoimentos das testemunhas ouvidas, Gil Inácio de Andrade e Avelino Teixeira, bem como do motorista do caminhão João Walter Sebastiani, fora causado pelo veículo Mércury, dirigido pelo dentista Felipe Jorge Abunahman, que, saindo de uma Estrada Municipal conhecida como "Estrada do Marson", sem a devida atenção e cuidados indispensáveis, adentrou a Rodovia Presidente Dutra, fazendo com que o caminhão Austin, de placas 11.58.84 do Rio Grande do Sul, dirigido por João Valter Sebastiani que seguia com destino a São Paulo desviasse de sua direção para a esquerda e atingisse em cheio o Buick de placas 11-65-80 do Distrito Federal, dirigido por Chico Alves, que seguia para o Rio de Janeiro, e que também ao perceber que o veículo Mércury adentrara na contra mão de direção, desviara para a direita, vindo a colidir em sua lateral esquerda, e morrendo carbonizado.

                                                                                                                                                                                                                                    

      LEMBRANÇAS DE UM SÁBADO DE TRISTEZAS...  

                          

          

CRÉDITO DA FONTE: FOTO RESENDE - TAUBATÉ-SP.

      

No acidente, Haroldo Alves que viajava com Chico Alves fora arremessado para fora do veículo, sendo socorrido e encaminhado ao Hospital Santa Isabel, em Taubaté, em estado grave. A ocorrência fora conduzida pelo delegado de polícia da cidade de Pindamonhangaba, Dr. Hélio Pereira Pantaleão. 

As manchetes dos jornais assim se manifestariam no dia seguinte à tragédia:

"Num desastre de automóvel morreu Chico Alves".  (O Dia).

"Cenas comoventes nos funerais de Francisco Alves. Uma multidão incalculável nas últimas homenagens da cidade ao seu filho querido. Desmaios de emoção durante o cortejo fúnebre, que durou mais de três horas. O esquife foi conduzido ao som da voz do inesquecível cancioneiro" (O Dia).

"Morreu tragicamente o cantor Francisco Alves. Seu automóvel chocou-se com um caminhão quando viajava de São Paulo para esta Capital". (Jornal do Brasil).

"Silenciam os violões e chora o Povo a morte do seu cantor. Enorme massa popular acompanhou o féretro do cantor". (Diário de Notícias).

"Morre num desastre o cantor Chico Alves".  (Diário Carioca).


"Morte trágica de Francisco Alves. O carro do popular cantor, após chocar-se com um caminhão, foi presa das chamas. Ficou carbonizado em Una, próximo de Taubaté, o local do desastre. Haroldo Alves, a outra vítima, acha-se em estado gravíssimo. Emudeceu a voz do Violão".  (A Manhã).

"O povo chora a morte de Chico Alves. Carbonizado o "Rei Da Voz" em tremendo choque de veículos na Rodovia Presidente Dutra. 1 violão de 2 Mtrs. e cordas de prata, a homenagem do povo carioca. Câmara ardente, lágrimas e dramas íntimos".  (Diário da Noite).

O velório de Chico Alves ocorreu na Câmara Municipal do Rio de Janeiro e seu corpo conduzido pela viatura do Corpo de Bombeiros, tendo o povo à frente como que demorando a que não chegasse ao seu destino final, o Cemitério de São João Batista. Durante todo o trajeto o povo atirara flores sobre seu caixão, cobrindo-o inteiramente. Naquela necrópole, diante de uma multidão nunca vista, ouvia-se um coro de crianças a entoar palavras que um dia, saíram de seu coração. Eram as Meninas da Casa de Lázaro, que tristemente cantavam “Canção da Criança”, enquanto seu corpo baixava à sepultura.

 

 

DECLARAÇÕES DOS ENVOLVIDOS NO TRÁGICO ACIDENTE E DAS TESTEMUNHAS, PELA IMPRENSA ESCRITA.

 

Gil Inácio de Andrade.

S. Paulo, 30 (Asp) - "...Gil Inácio de Andrade, motorista do DNER e que presenciou o desastre, pois, viajava a pouca distância, o acidente foi provocado por um Mercury, preto, chapa de Niterói, final 66, que era dirigido por um senhor gordo, moreno, em cuja companhia viajavam diversas pessoas. Esse carro entrou inopinadamente, na pista da rodovia, cortando a frente do caminhão, obrigando-o a uma cortada brusca. Perturbou também a marcha do carro de Francisco Alves, que se desviou do Mercury, indo então chocar-se com o caminhão, que havia tomado o mesmo lado...”. (Jornal Correio da Manhã, Quarta-feira, 1º de outubro de 1952, página 3, 1º Caderno).

 

Gil Inácio de Andrade.

 

S. Paulo, 1 (Asp) - Os jornais publicaram declarações do motorista Gil Inácio de Andrade, do DNER, testemunha do acidente em que perdeu a vida Francisco Alves. Declarou o mesmo que Felipe Abunahman é o maior, senão o único culpado do desastre. Acrescentou que seu carro entrou violentamente na rodovia Presidente Dutra, forçando o motorista a desviar-se e se projetar contra o carro do cantor. Afirmou ainda Gil Andrade, que viu Francisco Alves ainda com vida, gesticulando, pedindo socorro. Abriu a porta que estava apoiado Haroldo Alves e o retirou para fora do carro. Em seguida voltou para remover o outro ocupante, que era Francisco Alves. Tentava abrir a porta traseira do Buick, por onde seria mais fácil retirar Francisco Alves, quando ocorreu violenta explosão no tanque de gasolina, passando as labaredas a tomar conta do carro. Três outras explosões foram ouvidas a seguir, e o fogo envolveu inteiramente o Buick, carbonizando em seu interior o maior cantor do Brasil. Essas declarações do Sr. Gil Andrade trazem aspectos novos ao lamentável sinistro, uma vez que todas as versões até agora divulgadas indicavam que Haroldo havia sido lançado fora do carro e que o incêndio tomara conta do Buick em seguida ao choque e que por isso não houvera tempo para retirar Francisco Alves. Agora, pelo que disse o Sr. Gil Andrade, ele tentou realizar esse salvamento que foi dificultado por estar o corpo preso às ferragens e por ter sobrevindo o incêndio. Isso indica que Francisco Alves estava ainda com vida o que torna ainda mais doloroso seu fim. (Jornal Correio da Manhã, Quinta-feira, 02 de outubro de 1952, página 5, 1º Caderno, Edição 18261).

 

 Gil Inácio de Andrade e Avelino Teixeira.

“... apesar de procurar eximir-se de culpa, o Sr. Felipe Abunahman está seriamente envolvido no terrível sinistro que roubou a vida de Francisco Alves em face dos depoimentos das únicas testemunhas do desastre, cujas declarações tomadas a termo no cartório da Delegacia de Polícia de Pindamonhangaba, constituem, forte libelo contra o motorista do Mercury 6619. Ambos foram unânimes em afirmar que o Sr. Felipe Abunahman deixara o atalho, entrando na rodovia sem as devidas cautelas, infringindo deste modo as mais comezinhas regras do trânsito. Não bastasse essa imprudência e ainda se desviou demasiadamente de sua mão, atingindo mesmo ao fazer a curva muito aberta e contra mão da pista, o que obrigou o motorista do caminhão a dar um rápido golpe na direção e deixar a rodovia para ganhar o aterro que margeia a estrada. O mesmo aconteceu com Francisco Alves que, percebendo que o Mercury se encontrava na contra mão e não podendo frear o seu Buick na velocidade em que vinha, por diversas vezes acendeu o farol do carro, pedindo passagem ao auto que lhe obstruía o caminho. Mas, aproximando-se e não divisando possibilidade de parar sem chocar-se com o Mercury, desviou também para a esquerda, para o aterro, indo violentamente contra o caminhão que ali já se encontrava”. (Jornal A noite - Quinta-feira, 02/10/1952, página 13).

Observações: Entendo ter ocorrido interpretação errônea do Jornal A Noite, acima descrita, pois, Francisco Alves desviara para a direita, e não para a esquerda. Dessa forma, seria colhido em cheio pelo caminhão Austin, dirigido por João Walter Sebastiani. 

 

João Walter Sebastiani.

Há ainda contra o Sr. Felipe Jorge Abunahman a coincidência de pontos de vista nos depoimentos das duas únicas testemunhas do desastre e o do motorista do caminhão João Walter Sebastiani. Este disse que vinha pela estrada quando de repente surgiu de um atalho o carro “Mercury”. Para evitar o choque, deu para a esquerda e saiu da rodovia ganhando o aterro e continuando na sua marcha. Observou então que o carro fizera também uma curva muito aberta para entrar na estrada e que atingira a contra mão. Nisto divisou o carro azul e ao vê-lo desviar-se para o aterro previu o choque inevitável que teve tão trágicas consequências”. (Jornal A Noite - Quinta feira, 02/10/1952, página 13). João Walter Sebastiani, motorista de profissão, nascera aos 03 de junho de 1913 e era natural de Campestre, distrito do município de Montenegro-RS. Era casado com Hedi Alma Sebastiani, com a qual teve duas filhas, Therezinha Sebastiani e Maria Madalena Sebastiani. Faleceu aos 19 de março de 1959, na Casa de Saúde Arnaldo de Castro, no Rio de Janeiro, onde se encontrava internado. A causa de sua morte ocorreu devido a uma embolia cerebral, conforme atestou o Dr. Aércio Santos. Está sepultado no Cemitério de São Francisco Xavier.

 

Felipe Jorge Abunahman.

“...acompanhado de seu advogado Sr. José Geraldo de Oliveira Costa, iniciou o seu depoimento dizendo que nada podia dizer quanto ao desastre, pois, quando ouviu o tremendo estrondo já se encontrava há mais de cem metros à frente do local do sinistro. Declarou que chegara ao ponto de confluência do atalho, por onde vinha, com a rodovia Pres. Dutra, em marcha reduzida e de acordo com as normas de trânsito, para ver se podia entrar. Divisou neste momento a uns duzentos metros o caminhão e esperou um instante para deixar passar um carro. Em seguida, dispôs-se a ganhar a rodovia, uma vez que observou que o caminhão ainda vinha bastante longe. Alcançada a pista da Pres. Dutra, seguiu calmamente o seu caminho rumo a Taubaté, ouvindo quando já se encontrava distante cerca de uns cem metros, grande estrondo na sua retaguarda. Pouco antes cruzava com um carro azul que passara pelo seu alto em grande velocidade, acendendo os faróis. Parou o carro para ver o que tinha acontecido e verificou que o auto de cor azul se chocara violentamente com o caminhão no aterro que margina a rodovia e que um grande incêndio envolvia o carro de passeio. Correu a fim de prestar socorro às vítimas, mas não pode se acercar do carro em virtude do fogaréu. Muitas pessoas tentavam debelar as chamas. Algumas jogavam terra no fogo e ninguém se encontrava munido de um extintor de incêndio. Tudo foi inútil, entretanto. O senhor Felipe Jorge Abunahman terminou dizendo: Não tenho culpa do que aconteceu. Confio na justiça e lamento profundamente o que aconteceu a Francisco Alves”. (Jornal A Noite- Quinta-feira, 02/10/52, página 13).

 

O JULGAMENTO.

 

CONDENADOS OS RESPONSÁVEIS PELA MORTE DE "CHICO VIOLA".

 

Como réus primários, os imprudentes motoristas terão direito a "sursis". O julgamento se realizou na cidade de Pindamonhamgaba. São Paulo, 29, (Sucursal). Foram finalmente condenados em Júri Singular, realizado na cidade de Pindamonhangaba, os motoristas João Walter Sebastiani e Felipe Abuzan, acusados de terem provocado a morte de Francisco Alves, o popular "Chico Viola", no sinistro automobilístico que se verificou, no ano passado, na via Presidente Dutra.

Todos estão ainda lembrados do desastre que enlutou a música popular nacional no dia 27 de setembro de 1952. Os culpados.  Naquela ocasião este jornal publicou as fotos dos motoristas de um caminhão do Rio Grande do Sul contra o qual se chocara o carro de Chico Alves. Os motoristas em questão, compungidos diante do fato, acusaram o motorista de um misterioso sedan negro como o responsável direto pela ocorrência. Chico Alves - afirmaram eles - desviara-se desse veículo que corria desabusadamente pela Via Dutra e ao fazê-lo não pudera impedir que seu automóvel se chocasse contra o caminhão deles. Após investigações demoradas, identificou-se o "chafeur" do sedan negro como sendo o Sr. Felipe Abuzaman. Interrogado, este negou peremptoriamente tivesse qualquer culpa no caso. O processo correru nos trâmites legais, e ontem, finalmente, o Juiz de Pindamonhangaba condenou os dois culpados: João Walter Sebastiani foi condenado a 18 meses de preisão e Felipe Abuzaman a vinte meses. Como réus primários que são, tem direito a sursis, não se obrigando ao cumprimento da pena.

(Página 2, Última Hora, Rio de Janeiro, 29 de Dezembro de 1953).

 

 

MANIFESTAÇÃO DE ARTISTAS.

 

Acróstico "In Memoriam" -  (Para Lúcia Helena - Locutora)

                                              Autor: Moysés de Moraes Filho.

 

                                         Fechou-se em ti, a glória de uma voz;

                                          roubando ao Rádio seu dileto artista;

                                         ainda não morreste para nós;

                                                                nem também para Deus, que te conquista.

 

........

 

                                         Caminheiro do além que não se avista;

                                         ignoto de outro mundo, feito em pós.

                                         sublimado na mágoa que contrista;

                                         cante estrofe, que os anjos cantam sós.

 

........

 

                                          Outras divinas vozes, noutro abrigo;

                                          aljofradas das lágrimas do céu;

                                          levam contigo o teu melhor amigo.

                                          violão, companheiro da alegria;

                                          emudeceste em místico apogeu;

                                          subindo a Deus numa oração sombria.

 

........

 

MANIFESTAÇÕES PÚBLICAS

 

"Enviei minhas condolências a todos os brasileiros pela perda desse homem, que foi um grande amigo e um grande artista". (Carmen Miranda - cantora).

"Ao Presidente da Associação Brasileira de Rádio e ao Diretor da Rádio Nacional - Em nome da Marinha Brasileira e do meu próprio, queira aceitar as manifestações de pesar pelo falecimento do grande cantor Francisco Alves". (Ciro Cardoso - Ministro Interino da Marinha de Guerra).

"Perdi um amigo e um irmão. Não posso falar...". (Orlando Silva - cantor).

"Fiquei surpreso, chocado com a infausta notícia. Era um bom e grande amigo. Lembro-me que quando era o rádio uma brincadeira, ele já o levava a sério. Foi um batalhador e um pioneiro". (Heitor dos Prazeres - compositor e músico).

"Chico Alves velho de guerra... O teu violão emudeceu, mas a flauta está aqui para continuar tocando por esse Brasil, lembrando sempre a tua voz e as tuas canções. Sou eu, Chico Alves, o Benedito, o teu amigo Benedito Lacerda, companheiro dos teus bate papos e das tuas serestas. Sou aquele mesmo Benedito que, no sítio, recebeu o rude golpe da tua morte, mas aqui está para cumprir o dever de companheiro, colega e amigo. Quero também em nome da SBACEM trazer o adeus àquele que tanto de sua dedicação deu à causa do compositor brasileiro. Adeus Chico Alves. Descansa em paz". ( Benedito Lacerda - flautista e compositor).

"Está de luto a música popular. Morreu a maior de suas expressões". (Reinaldo Costa - locutor).

"Morreu o mais brasileiro dos cantores do Brasil! Um símbolo!". (Heber de Boscoli - radialista e apresentador).

"Com a morte de Francisco Alves, perde a música popular sua maior expressão. Era realmente um grande cantor, que desaparece tragicamente". (Yara Salles - atriz e apresentadora).

........

 

 

O ENCONTRO COM A SAUDADE ETERNA.

 

 

CRIANÇA FELIZ

Brincando, marcha o menino de hoje.
Lutando, marchará o menino de amanhã.
Crianças despreocupadas desse Brasil-Menino,
cujas glórias hão de colher os homens grandes
que dominarão o Brasil-Gigante
esse Brasil grandioso que eu canto,
que as crianças da Casa de Lázaro
felizes cantarão, numa esperança
de vitórias e alegrias.

Criança feliz, que vive a cantar
alegre embalar seu sonho infantil
ó meu bom Jesus, que a todos conduz
olhai as crianças do nosso Brasil!

Criança feliz, que vive a cantar
alegre embalar seu sonho infantil
ó meu bom Jesus, que a todos conduz
olhai as crianças do nosso Brasil!

Crianças com alegria
qual um bando de andorinhas
viram Jesus que dizia:
Vinde a mim as criancinhas!
Hoje dos céus num aceno
os anjos dizem amém
porque Jesus Nazareno
foi criancinha também!

Criança feliz, que vive a cantar
alegre embalar seu sonho infantil
ó meu bom Jesus, que a todos conduz
olhai as crianças do nosso Brasil!

Criança feliz, que vive a cantar
alegre embalar seu sonho infantil
ó meu bom Jesus, que a todos conduz
olhai as crianças do nosso Brasil!

Crianças com alegria
qual um bando de andorinhas
viram Jesus que dizia:
Vinde a mim as criancinhas!
Hoje dos céus num aceno
os anjos dizem amém
porque Jesus Nazareno
foi criancinha também!

Criança feliz, que vive a cantar
alegre embalar seu sonho infantil
ó meu bom Jesus, que a todos conduz
olhai as crianças do nosso Brasil!

Criança feliz, que vive a cantar
alegre embalar seu sonho infantil
ó meu bom Jesus, que a todos conduz
olhai as crianças do nosso Brasil!

 

 

......

 

 

UMA DE SUAS GRANDES PAIXÕES: O AMÉRICA FOOTBALL CLUB.

 

 

Sábado, 27 de setembro de 1952. Tarde de muito calor no Maracanã. Exatas 12.235 pessoas presenciaram o clássico entre Bangu e América, numa época em que ambos os clubes ainda podiam se considerar postulantes ao título de campeão carioca. “A tarde estava quente e isto deve ter afugentado os torcedores. Pior para eles, que deixaram de assistir um encontro interessante, em que o Bangu afirmou de maneira iniludível sua condição de candidato real ao título” - afirmou o Diário da Noite. Além do público presente ao estádio, é certo que uma multidão também estava ouvindo pelo rádio a transmissão da partida. Através da imaginação, cada torcedor tinha ideia do que os craques faziam com a bola pelo gramado. Um desses ouvintes era justamente o torcedor mais famoso do América à época: o “Cantor das Multidões”, Francisco Alves. Voltando de São Paulo para o Rio, a bordo de seu Buick, pela rodovia Presidente Dutra, o “Rei da Voz” sintonizou a Rádio Tupi, onde o locutor Raul Longras lhe contaria as peripécias do time rubro naquela tarde. O jogo começou às 15h30. Aos 38 minutos do 1º tempo, Francisco Alves teve motivo para se alegrar. O ponta-direita Guilherme, de bicicleta, fazia um golaço para o América que, com isso, iria para o intervalo, vencendo por 1 a 0. Mas no 2º tempo tudo mudou. O Bangu, do técnico Ondino Viera, passou a pressionar mais e alcançou o empate logo aos 9 minutos, com um chute de Zizinho, que ainda bateu no travessão antes de entrar: 1 a 1. Logo depois, o zagueiro Joel se contundiu. Pior para o América, já que na época as substituições não eram permitidas. Deslocado para o ataque, apenas para “fazer número”, eis que Joel consegue o impossível: aos 20 minutos, acerta um chute no gol de Arizona e faz o segundo tento americano. Sorte do Bangu que ninguém teve tempo de se abater. Aos 23 minutos, o ponta-esquerda Nívio acertou um chute seco, rasteiro, no canto do goleiro Gavillán, voltando a empatar a partida. Francisco Alves no seu Buick e toda torcida americana não contavam com uma resposta tão rápida dos “Milionários de Moça Bonita”.

A partida continuava eletrizante. Na voz dos speakers de rádio, então, ganhava ares de loucura para quem estava do outro lado, ouvindo a “irradiação” do jogo. Foi, então, que aos 34 minutos, Menezes chutou forte, a bola veio quicando pelo gramado e acabou batendo numa saliência, encobrindo o goleiro Gavillán, que se atirava para defender um chute rasteiro. Era a virada do Bangu! O paraguaio Gavillán era o goleiro reserva do clube rubro. Osni, o titular, não jogara por estar contundido e a torcida não tinha a mínima confiança no seu substituto. Nem a torcida, nem o meia Zózimo. Aos 44 minutos, quando era grande a pressão americana pelo empate, o Bangu alcançou seu quarto gol. Zózimo atirou forte da entrada da área na direção de Gavillán, a bola bateu no peito do keeper com tanta força, que subiu e foi parar dentro da meta. Gavillán ainda correu para agarrá-la, mas já estava abraçado à bola, dentro das redes. Um autêntico frango! O goleiro foi crucificado, inclusive, pelo próprio técnico do América: “Gavillán foi comprometido, indiscutivelmente, pelo quarto gol do Bangu. Falhou e teve, realmente, enorme parcela de culpa” – resmungou Juca da Praia.

Era por volta de 17h30. Francisco Alves desligou o rádio resmungando da atuação de seu goleiro para o carona, o também americano Haroldo Alves. Menos mal que, enquanto seu time capengava no Campeonato de 1952 (era a terceira derrota americana em seis jogos), sua carreira era um sucesso estrondoso. Na sexta-feira à noite, tinha feito um grande show no Largo da Concórdia, em São Paulo. No domingo, ao meio-dia, teria que estar na Rádio Nacional, na Praça Mauá, no Rio, para participar ao vivo no programa de Luiz Vassalo. Como tinha medo mortal de andar de avião, traumatizado pelo fato de Carlos Gardel, o “Rei da Voz” dos argentinos, ter perdido a vida numa decolagem, em 1935, Chico Alves preferia fazer o percurso São Paulo-Rio de carro, ele mesmo dirigindo, ouvindo rádio e se lembrando da época em que era um simples chofer de praça. Naquele sábado, infelizmente, o “Rei da Voz” se envolveu num acidente fatal a 130 quilômetros por hora. Às 17 horas e 35 minutos, “no trecho da estrada que atravessa o município paulista de Pindamonhangaba, o seu carro chocou-se com um caminhão, transformando-se numa fogueira. Ferido de morte, Chico foi envolvido pelas chamas, o seu corpo ficou carbonizado”. – registrou o Diário da Noite.

Evidente que o noticiário esportivo ficou em segundo plano nos jornais do dia seguinte. A morte trágica do maior cantor do país, aos 54 anos, emocionou o Rio de Janeiro. No domingo, mais de 100 mil pessoas foram até a Candelária, no centro do Rio, onde o corpo estava sendo velado no Salão Nobre da Câmara Municipal. Muitos culpavam o motorista do caminhão, João Válter Sebastiani pela tragédia; outros culpavam o dentista Jorge Abussanam, que dirigindo um Mercury preto, teria saído de uma estrada de terra justamente à frente do caminhão que, para evitar um choque, teria escapado para a outra pista, exatamente aquela em que trafegava Francisco Alves. Todos os fãs, no entanto, devidamente se esqueceram que Francisco Alves morrera pensando simplesmente na derrota imposta pelo Bangu ao seu América...

 

FICHA TÉCNICA

 

 

 

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Requiescat in pace, Rei da Voz!

 

PROFº GILBERTO DA COSTA FERREIRA - HISTORIADOR, PESQUISADOR E ESCRITOR. 

cfgilberto@yahoo.com.br

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69 anos de saudades. | 28/09/2021
Excelente reportagem. Hoje, dia 27 de setembro de 2021, faz 69 anos do ocorrido. Dói em nossos corações esta tragédia, mas, ele ficará para sempre em nossas lembranças. Muito obrigado pelo caminho percorrido até naquele fatídico dia. Deus nos abençoe.
Edson da Silva Soares.

Tio Chico e vovó Angela | 24/11/2019
Muito bom ver o sorriso da minha tia bisavó, de quem herdei o nome- Angela- saudades dessa portuguesinha que me ensinou o que é amar e que teve uma grande influência na criação de todos os seus irmãos.


Chico Alves - O Rei da voz | 12/08/2015
Excelente trabalho de pesquisa! Rico em detalhes, capazes de arrancar lágrimas de seus leitores. Parabéns Gilberto. Que você continue sempre com esse vigor de expressão e essa vivacidade no escrever.
Benedito Moraes de Faria


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