O RENASCER PARA UMA VIDA
UM DELEGADO E UMA FLOR CHAMADA LUÍZA
Em pleno desencadeamento da Revolução Constitucionalista no Vale do Paraíba Paulista, considerado o palco central do Teatro de Operações com desenvolvido nas cidades do Fundo do Vale, Taubaté recebia de braços abertos entre seus habitantes e com as boas vindas, o mais novo de seus taubateanos, Arthur de Barros Bindão. Nascido aos 19 de julho de 1932 no antigo casarão localizado na outrora Rua da Cadeia, atual Rua São José, era filho de João Bindão e Antonieta de Barros Bindão, de tradicional família de nossa cidade. Seus pais, muito religiosos, foram seguidores da perpetuação dos presépios nos Natais e das festividades em louvor ao Divino Espírito Santo, em Taubaté. Arthur viveria ali toda sua infância de menino obediente, cujo histórico de sua família era de uma prole numerosa e de pessoas cultas. Em razão da tuberculose que assolava o país e principalmente nossa região, perdera vários de seus irmãos para essa doença antigamente conhecida por “peste cinzenta”. Oswaldo (padre em Guaratinguetá, já falecido), Silvio (diácono e advogado aposentado em São José dos Campos), Mário (aposentado do SESI em Taubaté), Francisco (aposentado em São Paulo e já falecido) e por último, o caçula, Arthur, prosseguiriam na longa jornada da vida.
Arthur e Francisco seriam alunos do Instituto Diocesano e Internato Santo Antonio, em Taubaté, em virtude da doença que acometia a Família Bindão. Anos mais tarde, já adultos, mudariam com sua família para São José dos Campos, retornando depois para a sempre querida e acolhedora Taubaté e de volta para o querido casarão.
OS ESTUDOS NO INTERNATO SANTO ANTONIO SAO JOSÉ DOS CAMPOS NA DÉCADA DE 40 A VOLTA PARA TAUBATÉ NA DÉCADA DE 50
Arthur se formaria pela Faculdade de Direito de São José dos Campos, indo depois morar e trabalhar em São Paulo como Escrevente do Judiciário. Sempre voltado aos estudos, prestaria concurso para Delegado de Polícia, onde seria aprovado, tendo a partir de então prestado seus serviços na longínqua Taiúva, pequena cidade situada ao norte do Estado, bem como em Lagoínha e São Luiz do Paraitinga, em nossa região.
DELEGADO EM TAIÚVA NA DECADA DE 60 DELEGADO EM LAGOÍNHA NA DÉCADA DE 60 DELEGADO EM SÃO LUIZ DO PARAITINA NA DÉCADA DE 60
Nessa cidade, berço do Médico Sanitarista Oswaldo Cruz, conheceria aquela que o acompanharia para sempre, Iniete Aparecida Lemos Bindão, uma dedicada e competente professora da Rede Estadual e natural de Lorena-SP. Casar-se-iam em 1967 e dessa feliz união nasceriam os filhos João Bindão Neto, em 1968 e Jefferson Lemos Bindão, em 1977. Transferido para Taubaté no final de 1969, Dr. Bindão, como era conhecido e como passaremos a tratá-lo em diante, seria designado como Delegado de Trânsito. Tive o privilégio e a grande felicidade em minha vida como policial militar de trabalhar ao seu lado no serviço de trânsito de nossa cidade.
COMO DELEGADO DA 20ª CIRETRAN EM TAUBATÉ
Corretíssimo em suas atitudes desempenhava suas funções com desenvoltura, sapiência e respeito para com todos. Tempos mais tarde trabalharia em Guarulhos e São Paulo. Na capital foi Delegado no 9º D.P. e ocupou funções de destaque junto à Academia de Polícia Civil e na Corregedoria. Foi Delegado Seccional da Região de Mogi das Cruzes, tendo logo após se aposentado como Delegado de Polícia de Classe Especial.
COMO SECCIONAL DE POLÍCIA EM MOGI DAS CRUZES
Seus filhos tomariam rumos diferentes em suas vidas. João seguiria carreira policial, ocupando atualmente a função de Investigador de Polícia junto ao 1º D.P. de Taubaté, tendo em 2000 se casado com Amanda, advindo então, o nascimento de Luíza. Jefferson optaria pela Medicina. Tanto quanto João, Jefferson era a alegria e o orgulho para toda a família. Filho obediente, bom irmão, estudioso e inteligente marchava ele pelos caminhos da Ciência Médica, contente da vida e do mundo, igual a um jovem ateniense que escalasse, cantando, a montanha sagrada, para colher lá do alto, o disco de ouro do sol. Em 2004 cumpria sua residência médica em Cirurgia Geral no Hospital Universitário de Taubaté, quando, na madrugada de 1º de Maio, um sábado de triste memória para todos nós, viria a sofrer um trágico e fatal acidente automobilístico no cruzamento da Rua Dr. Emílio Winther com a Av. Tiradentes, em Taubaté, em que, o veículo em que se encontrava e dirigido por seu colega, também médico, se chocara contra uma árvore. Jefferson faleceria no próprio local vitimado que foi por um traumatismo craniano, não obstante os esforços despendidos pelos policiais do Corpo de Bombeiros de nossa cidade que prontamente o socorreram. Foram dias seguidos de sofrimentos para uma família inteira, sacrificando-se em silêncio muito doloroso para não se afastar das memórias e das lembranças daquele filho e irmão. Sua fortaleza, suas energias e sua coragem, se abateriam de maneira repentina, tal qual um pássaro, que longe de seu ninho, é atingido pela fúria de um temporal. Sentia-se de tal forma pequeno sob a fatalidade que o atingira e que não lhe dava trégua, quando ainda nesse mesmo ano seria acometido por uma doença, sendo-lhe diagnosticado um câncer de próstata, doença essa que seria controlada por aproximadamente 10 anos. Mas era preciso viver, era preciso continuar. E, buscava nas palavras da família e dos amigos o bálsamo que tanto precisava para prosseguir na jornada da vida, agora, magnífico de dor e de heroísmo calado.
Dr. Bindão, como todos nós, tinha também grandes paixões. A família como sua razão de viver, o sagrado futebol de salão aos sábados durante a confraternização com seus colegas de Delegacia, o seu eterno e glorioso Corinthians, os deliciosos pratos à base de massas e carnes, de preferência “aquele churrasco”, e por último, o lazer com passeios em lugares de clima frio. Em 2005, um ano para fazer esquecer um pouco dos desencontros da vida, nasceria Luiza, filha de seu primogênito, a sua netinha querida e abençoada, a Luz Divina que o Criador lhe presenteara e aquela que lhe permitiria reencontrar a alegria de viver. Em 2014, já alquebrado pela idade, Dr. Bindão seria acometido por dois AVCs, ocasionando paralelamente um descontrole do câncer, uma batalha que ele não conseguira vencer. No dia 20 de junho, prestes há completar 82 anos, viria a falecer em sua residência. Deixou como legado a honradez, o respeito de seus pares e da sociedade que tanto lhe fizeram bem, as lembranças imorredouras de um avô carinhoso, os exemplos de marido e pai e a solicitude para com as pessoas que sempre soube respeitar e engrandecer.
CEMITÉRIO DA VENERÁVEL ORDEM TERCEIRA - ANEXO AO CONVENTO SANTA CLARA
Seu velório ocorreu na Organização São Benedito, Capela Quatro, onde parentes e amigos foram visitá-lo para a despedida final. Pude testemunhar Dr. Bindão, que naquele sábado de manhã e diante daquele sol que partilhava com nossa tristeza, sua pequenina boneca de carne e encantadora Luíza, junto à sua mamãe, manifestava todo seu sentimento pela triste despedida através das lágrimas que escorriam pelo seu rostinho terno, lágrimas de amor e de saudade, agora transformadas em rosas vermelhas.
Seu sepultamento foi realizado no Cemitério da Venerável Ordem Terceira, anexo ao Convento Santa Clara, em Taubaté. “Até um dia, Dr. Bindão”.
PROFº GILBERTO DA COSTA FERREIRA - HISTORIADOR, PESQUISADOR E ESCRITOR.
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