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YVES RUDNER SCHMIDT |
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UM MAESTRO DE PRIMEIRA GRANDEZA.
Yves Rudner Schmidt nasceu em Taubaté-SP, aos 09 de junho de 1933, sendo filho de Ulysses Carlos Schmidt e de Lydia Rudner Schmidt, ambos filhos de alemães. De uma família composta por seis irmãos, a saber, Thereza Yanesse Rudner Schmidt Cardozo, Yves Rudner Schmidt, Yancey Carlos Rudner Schmidt, Yeda Maria Rudner Schmidt, Yradier José Rudner Schmidt e Yamar Luiz Rudner Schmidt, todos naturais de Taubaté-SP, sendo que apenas Thereza e Yves, nasceram na Rua Visconde do Rio Branco, atual 490, e os demais irmãos na Rua Engenheiro Fernando de Mattos.
Seus pendores artísticos se fizeram notar ainda criança com apenas nove anos de idade, quando se apresentou no Primeiro Recital de Piano Público, realizado no Taubaté Contry Club, expondo ali todo os ensinamento adquirido dos professores Heinrich Petters (Teoria, solfejo e harmonia) e Maria do Carmo Lins Prado (piano). Ali estava desenhada toda uma carreira futurística e artística daquele menino loirinho e taubateaninho notável, que, no decorrer de toda trajetória cultural jamais negou suas origens de homem do interior, muito pelo contrário, propagaria a terra de Monteiro Lobato em todos os lugares por onde se apresentaria.
Em 1946, com treze anos de idade, compôs de sua autoria, uma valsinha para piano. Seu talento era demasiadamente grande para permanecer em sua terra natal, pois, esta não possuía um Conservatório, daí resultando sua ida para a Capital do Estado com a finalidade de aperfeiçoar-se em música e, mais tarde, com a conseqüente preparação para o vestibular no Conservatório. Em 1949, após completar os estudos que se faziam necessários, presta exames de seleção e obtém aprovação para o Conservatório Dramático e Musical de São Paulo. Sua consagração maior seria coroada de pleno êxito com a formatura acadêmica no histórico e glorioso Teatro Municipal de São Paulo.
Tendo o idealismo e o empreendedorismo como razão de sua magnitude cultural, funda a Associação Brasileira de Jovens Compositores em São Paulo, da qual foi seu Diretor. Prosseguindo a deslumbrante carreira que escolhera, é convidado a fazer trilhas sonoras para películas cinematográficas e peças teatrais, tendo realizado inúmeras composições entre os anos de 1952 e 1956. Em 1953, é formulado um convite por seu primo Afonso Schmidt (Cubatão, 29 de junho de 1890 – São Paulo, 03 de abril de 1964) escritor de renome, jornalista, dramaturgo e ativista anarquista brasileiro, oferecendo-lhe uma bolsa de estudo na União Soviética (Rússia), entretanto, Yves Rudner Schmidt não aceitou, tendo em vista a obrigatoriedade de se filiar ao Partido Comunista.
Nesse mesmo ano é premiado com a Medalha de Ouro, por ter conseguido o primeiro lugar no concurso de piano dos formandos do Curso de Virtuosidade (Concertista) do Conservatório Dramático e Musical de São Paulo. Quando de sua formatura do Curso de Concertista do Conservatório Dramático e Musical de São Paulo, realizado no Teatro de Cultura Artística, executa o Concerto em Do Maior, de Bach-Boskoff. Também em 1953, forma-se pelo Conservatório Paulista de Canto Orfeônico. Em maio de 1955, lhe é outorgado o Diploma Honorífico de Membro Correspondente do Archivo General de 1ª Música Nacional de Buenos Aires-Argentina. Sua primeira apresentação pública no exterior ocorre na Rádio El Mundo de Buenos Aires, Argentina, alcançando grande sucesso e repercussão.
Em 08 de novembro de 1956, assumiu pela primeira vez a direção da Orquestra Sinfônica de Taubaté, em substituição ao maestro Carlos Norberto Aliandro, que adoecera. A apresentação teve como palco o Teatro Metrópole de Taubaté e com a finalidade de compor o espetáculo de ballet dirigido pela bailarina Myrian Hirst. Nessa noite de gala estariam presentes dentre as bailarinas, sua irmã Yeda Schmidt, bem como Célia Benelli Campello, a nossa querida Celly Campello, que já nessa época se apresentava cantando na Rádio Cacique de Taubaté e que mais tarde seria considerada a Rainha do Rock. Maestro Yves, nessa ocasião, apresentou composições de sua autoria. Foi uma apresentação impecável para uma noite memorável.
Em 1958, os Irmãos Vitale Editores S/A, de São Paulo, editaram as composições para piano intituladas “Dois Ponteios”, as quais seriam as primeiras de uma série de mais de cem outras composições impressas. No dia 29 de agosto de 1958 seu valor como músico começa a ganhar corpo e reconhecimento, quando recebeu a Medalha Sylvio Romero pela Secretaria Geral da Educação e Cultura da Prefeitura do Rio de Janeiro, por ocasião das comemorações do 10º aniversário da Comissão Nacional de Folclore. Nesta área, Yves teve participação decisiva e importantíssima, exercendo papel de destaque como Membro da Comissão Paulista de Folclore, do Centro de Pesquisas Folclóricas Mário de Andrade. Compôs inúmeras peças, defendeu teses e publicou livros, sobressaindo-se nas pesquisas de campo propriamente ditas, ao lado de personagens ilustres como Rossini Tavares de Lima, Renato Almeida, César Guerra Peixe, Hernani Donato, Laura Della Mônica, dentre outros nomes de relevância do nosso Folclore.
Em 1959, o Brasil lamentava sua ida para o Exterior, mais precisamente para a Alemanha, entretanto, louvava-o pela iniciativa e augurava-lhe toda a ventura deste mundo, tendo em vista seu objetivo de aperfeiçoamento musical, lá permanecendo por três anos. O mais louvável feito em toda sua carreira de pianista e compositor foi que em todos os momentos por ocasião de seus recitais, palestras, entrevistas para emissoras de rádio e televisão, centros culturais ou debates, somente os fazia quando se tratasse de abordar qualquer tema sobre música brasileira, portando-se como um verdadeiro representante das raízes culturais de seu povo.
Um diplomata por excelência visitando mais de quarenta e cinco países. Seu primeiro recital público na Alemanha teve como palco o Salão Nobre do Hotel Alster-Hof de Hamburgo, totalmente lotado e com as presenças dos Cônsules do Brasil e de Portugal. Em 1960, ainda na Alemanha, passou a frequentar o Curso de Piano no Klaersches Konservatórium der Musik de Hamburgo, com a direção de Manfred Mentzel.
Seu segundo e mais importante recital na Alemanha ocorreu em 09 de junho de 1960, dia de seu aniversário de 33 anos, na cidade de Hamburgo, tendo se apresentado na Ibero-Amérika Haus. Nessa oportunidade, difundindo nossa cultura, expôs artigos típicos e folclóricos do nosso país. Sua diversidade musical alcançou destaques mais significativos, como as apresentações nesse mesmo ano em Haia, Amsterdan e Roterdan, na Holanda. Na Floriade de Haia (um parque magnífico, onde o setor de horticultura holandês apresenta suas últimas tendências e avanços para o resto do mundo), quando de sua apresentação, teve a honra de ser cumprimentado pela Rainha Juliana, da Holanda.
Ainda em 1960, apresentou-se em França-Paris. Seu recital tendo como palco na Maison Du Brésil (Citê Universitaire), contou com a presença marcante do musicólogo e folclorista brasileiro Luiz Heitor Corrêa de Azevedo, representante do Brasil na Divisão de Música da União Pan Americana em Washington e, mais tarde, no Comissariado de Música da UNESCO, sendo autor de uma obra rara denominada “150 anos de música no Brasil” (1800-1950) e editada em 1956. Com uma abnegação a toda prova e um amor de corpo e alma pela cultura brasileira, vem a programar em 1960 pela Rádio Difusion e Tv Française, em Paris, músicas de sua autoria constantes de seu long play “Se a Cidade Contasse...”, no Programa Cruzeiro do Sul.
Em 1961, manteve contato com o Carl Orff, compositor alemão e um dos mais destacados do século XX, famoso sobretudo por sua cantata Carmina Burana. Ainda nesse ano, seria testemunha ocular da história, ao presenciar para sua grande tristeza a construção do “Muro de Berlin”. Esse muro, além de dividir a cidade de Berlin ao meio, simbolizava a divisão do mundo em dois blocos ou partes: de um lado a República Federal da Alemanha (RFA), que era constituída pelos Países Capitalistas liderados pelos Estados Unidos; de outro, a República Democrática Alemã (RDA), constituída pelos países socialistas e simpatizantes do regime totalitário soviético. Isso veio a motivá-lo a compor “Die Mauer” (O Muro), primeiramente para o piano e depois com orquestração, composição essa que faz parte da “Série Impressões Européias”, editada em um Álbum pela Ricordi Brasileira, São Paulo.
Em 1962 podemos afirmar que foi um ano muito proveitoso e de enriquecimento cultural para a carreira que abraçou. Foram várias participações importantes do decorrer desse ano, dentre elas, o Certificado de Frequência do Curso “A Música em Nosso Século” pela Hamburger Volkshochschule (Alemanha), ministrado pela Professora Friedel Hollern; Recebeu Bolsa de Estudos pela Fundação Calouste Gulbenkian de Lisboa- Portugal, sobre estudos da relação musical folclórica entre a música do Brasil e de Portugal, tendo como orientadores os maestros Fernando Lopes Graça e Vergílio Pereira, bem como a participação do Dr. Jorge Dias. Na mesma Lisboa e também pela mesma Fundação, frequentou o Curso de “Evolução da Música Culta no Brasil”, curso esse ministrado pelo musicólogo alemão-uruguaio Francisco Curt Lange; Ainda em Portugal frequentou o Musical de Férias em Costa do Sol, no Estoril, sendo orientado por Alexandre Pitanic, de Salzburg-Áustria com ênfase em Direção de Orquestra, e, Jorge Croner de Vasconcelos. Em 1963 vem a lançar seu primeiro livro intitulado “Brasil – Folclore Para Turistas” pela Editora Áquila S/A de São Paulo sob a direção do Profº José Júlio Stateri. Esse livro foi lançado visando os Jogos Pan-Americanos de São Paulo, tendo sua tiragem se esgotado rapidamente, devido sua preciosidade de informações.
Sua tão esperada volta ao Brasil ocorreu no ano de 1964, ano esse marcado pelo governo militar na luta contra o terrorismo. Em seu país de origem teve todo o reconhecimento que podia ser oferecido a um maestro de primeira grandeza, sendo nomeado Professor Catedrático de Piano para o Conservatório Dramático e Musical Dr. Carlos de Campos, de Tatuí-SP, nomeação essa conferida a nível estadual. Nessa Escola de referência nacional, também fez parte do Conselho Administrativo e do Forum da mesma. Em 19 de dezembro de 1964, em noite de gala no Rio de Janeiro, teve pelo consagrado Ballet de Meudes (Stamato), suas composições apresentadas no Teatro Municipal, sob a regência do maestro Max Kreiter e ao piano Kátia Stamato Meneses. Em 1968, apresentou recital e entrevista na Rádio Ministério da Educação e TV Educativa e Cultural de Lima-Peru. Nesse mesmo ano, também se apresentou e foi entrevistado pelo Canal 2 para o programa de Renny Ottolina (televisão) de Caracas-Venezela, oportunidade em que foi contemplado com o maior cachê pago no exterior.
Em 1976 teve seu nome lembrado na Revista “A Arte Brasileira” do Ministério das Relações Exteriores, pelo Setor “Música Para Todas as Embaixadas e Consulados do Brasil”. Em 1977 teve suas composições apresentadas na Exposição de Música Contemporânea Brasileira na Embaixada do Brasil em Tóquio-Japão, o mesmo ocorrendo na Embaixada Brasileira em Ottawa-Canadá, por iniciativa do compositor Luiz Carlos Vinholes. Também nesse mesmo ano, foi mencionado no “Catálogo Partiture” do Instituto Ítalo Latino Americano do Centro de Documentazione de Roma-Itália, bem como no International Who/s Who in Music and Musicians Directory-International Biographical Center-Cambridge-Inglaterra.
Em janeiro de 1978 frequentou na Universidad de Chile, em Santiago, o Curso Nietzche y Wagner, curso esse ministrado pelo compositor Domingo Santa Cruz Wilson. Em 1979 novamente foi mencionado em “The Piano Quarterly” em Composições Representativas para piano de compositores brasileiros de New York-USA. Em 1980 tornou-se membro da Internationale Organization Fur Volkskunst de Viena-Áustria. Ainda nesse mesmo ano algumas de suas composições para piano fizeram parte de um importante concurso intitulado “klavierwelttbewerb brasilianishe musik dês 20 jahrhunderts” da mesma Escola Superior de Música de Viena-Áustria. Em 1984 tem seu nome lembrado pelo Conservatório Musical Souza Lima, em São Paulo, com a inauguração do Museu Folclórico Yves Rudner Schmidt em sua homenagem.
Em 1995 apresentou-se no Konservatuvari Medere-Mimar Sinan Oniversitesi em Istambul-Turquia, com recepção pelo Diretor Profº Nuri Jyicil e dos compositores Cengiz Tanc e Ilhan Usmanbaç, recepção essa digna para um maestro de tamanha projeção e importância para cultura musical. Em 1996 suas composições fizeram parte no Festival “Musik Abad Ke 20an” em Devan-Budaya, na Universiti SAIA Malaysia, na Malásia. Em 1998 com regência do Maestro Samuel Kerr, o Coral Lírico Paulistano apresentou composições de sua autoria sobre poesias de Paulo Eiró, no Teatro Municipal de São Paulo. Em 1999 quis o destino e por bênçãos de Deus que sua última apresentação tivesse como palco sua cidade natal, quando executou “Estudos transcendentais” de Francisco Mignone. Essa apresentação ocorreu no Espaço Cultural Mestre Justino.
Em 2002 foi eleito Membro Efetivo na Academia Taubateana de Letras, sendo-lhe conferida a Cadeira de nº 16, cujo Patrono é Monsenhor Antonio Nascimento Castro. Em 2003 receberia aquela que é considerada a mais alta condecoração do Município, a Comenda Jacques Félix, outorgada a personalidades que elevam e dignificam o nome da cidade de Taubaté. Em 2004 a Orquestra do Conservatório Dramático e Musical de São Paulo, sob a regência do Maestro Ricardo Rossetto Mielli, apresenta composições de sua autoria na Capital Paulista, nos Teatros São Pedro e Sérgio Cardoso, no Memorial da América Latina, no Mosteiro da Luz, na Assembléia Legislativa do Estado, na Catedral da Sé, na Sala São Paulo, dentre outros. Em 2010, em Taubaté, a Prefeitura Municipal através de sua Diretora Ana Lourdes Candelária de Mattos, nossa querida e eterna “Duda” e com organização e montagem pelo artista plástico Márcio Gotard, inauguraria o Museu Yves Rudner Schmidt no Centro Cultural Municipal, com miniaturas de pianos que ao longo de sua vida adquiriu, procurando dessa forma transmitir e propiciar às gerações vindouras a beleza de uma vida voltada para a Arte Divina que Deus nos deixou: A Música. Em 24 de maio de 2013, a Academia Taubateana de Letras o empossou como Acadêmico Honorário, cujo Patrono é Gastão Schmidt.
Maestro Yves Rudner Schmidt! A sua importância para o enriquecimento de nossa cultura transcende aos elogios e referências do qual foi, em toda sua carreira artística, objeto de explanação. Quando os homens têm coração, até os prisioneiros beijam a mão de quem os encarcerou. Somos eternamente gratos por toda a beleza transmitida em cada toque de seus dedos para extrair uma nota musical em um piano, em cada pensamento para tornar uma música bálsamo para nossos corações aflitos e em cada olhar dirigido ao seu público que sempre o admirou e o tem como exemplo a ser seguido. Que neste dia 09 de junho de 2013, dia em que comemora seus oitenta anos de vida, o Criador derrame bênçãos sobre seu coração, em forma de ternura e amor. São os desejos de alma deste amigo que o respeita e o admira. Profº Gilberto.
OBRAS LITERÁRIAS PUBLICADAS PELO AUTOR.
PROFº GILBERTO DA COSTA FERREIRA - HISTORIADOR, PESQUISADOR E ESCRITOR.
cfgilberto@yahoo.com.br
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