LAURA DOS SANTOS FARIA |
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UM ANJO ENTRE NÓS.
A memória, segundo Nordau, é determinada pela fixação de uma gota de sangue nas células cerebrais. Despertada a atenção do indivíduo por um dos sentidos, sobe essa gota de sangue por um filamento nervoso e vai colocar-se na célula correspondente. Mais tarde, toda vez que uma sensação idêntica ferir esse nervo, a memória evocará o fato anterior, de modo que, enquanto essa gota de sangue não secar, restará no cérebro, a lembrança do acontecimento que a determinou.
Dessa forma, para dar seguimento ao que proponho expor adiante, não poderia deixar de citar essa importante conclusão de Max Nordau. Como escritor e afeito a escrever sobre biografias, algumas delas relacionadas às pessoas que permanecem junto ao nosso convívio, outras por conhecimentos de bancos acadêmicos, outras ainda que partiram desta vida, mas deixaram perpetuadas passagens positivas e perenes, é que meus pensamentos, dirigidos por aquela gota de sangue me fizeram retroceder ao tempo e rebuscar nas prateleiras empoeiradas de meu cérebro, algo maravilhoso.
Nesta data, 27 de maio de 2013, por volta de 15.00 h, quando coordenava e fazia uso de minha biblioteca, fui movido por uma força estranha e superior e levado de imediato à lembrança do nome de uma criança, que, pelos desígnios do Criador, fora arrebatada de seus pais num momento que julgara ser o correto. Seu nome, Laura dos Santos Faria. Para nós, Laurinha, um anjo que já existia mesmo antes de nascer. Por muito curto espaço de tempo, não tive a felicidade de conhecê-la em vida.
Também, não tive conhecimento de seu passamento em virtude de não conhecer seus familiares, o que ocorreu somente em julho de 2002. Entretanto, pude conhecer um pouco sobre esse anjo com o passar do tempo e do contato com seus pais, meus grandes amigos Faria e Marizilda, solidamente compostos como família, bem como de sua irmã Andrezza, uma fisioterapeuta de escol, competente, educada e meiga, tal como Laurinha.
Laurinha nasceu aos 14 de fevereiro de 1997, uma sexta feira pós-carnaval e em pleno verão brasileiro. Chegou a este mundo físico para alegria de seus pais Faria e Marizilda e de sua irmã Andrezza, a “Dedei” de sua vida, e para completar uma família muito unida e feliz. Com três aninhos de vida começou sua vida escolar e quando sua mãe a deixava com as “tias”, mesmo para um pequeno espaço de tempo, a separação tornava-se algo impiedoso e sofrido. Deixá-la ali, mesmo com todo o carinho e cuidado, em sua consciência significava que a estava abandonando.
Laurinha gostava muito de desenhar, e, “arte” para ela estava sempre relacionada às imagens de pessoas e animais. Quando Laurinha passou a acompanhar sua mamãe pelas ruas centrais de Taubaté, e quando do encontro com pessoas pobres e seus filhinhos que esmolavam na Praça Dom Epaminondas, já despertava atenção ao querer brincar com aquelas criancinhas, todas mal vestidas, muito sujas, com aparência de crianças famintas, entretanto, muito parecidas com as mesmas criancinhas de Jesus Nazareno.
Era a companheirinha de sua mamãe aos sábados pela manhã, quando costumava carregar moedinhas para presentear aos desafortunados e miseráveis desta vida, bem como pedia para sua mamãe levar uma vovozinha que ali vivia, para sua casa a fim de tirá-la das ruas e tratá-la. Somente um coração de mãe poderia perceber e sentir que Laurinha viera a este mundo para ser portadora de um dom tão difícil de entendermos e praticarmos, mas que para ela significava a razão de seu viver e de uma vida tão precocemente levada pelas mãos do Criador.
Assim era Laurinha, portadora de um coraçãozinho maravilhoso, às vezes parecendo uma borboleta a voar sobre as flores de um jardim, como uma estrela a mais no firmamento ou uma beleza das manhãs de setembro, ou ainda, como o zênite em seu ponto mais elevado. Um dia, Laurinha veio a adoecer. O que poderia parecer um pequeno mal estar desenvolveu-se para uma enfermidade que algum tempo depois lhe seria fatal. Foram dias de tormentos, de angústia, de dilacerar corações. Como que anunciando um até breve, certo dia quando se encontrava internada perguntou a sua mamãe: “Mamãe, olha que lindo este beija-flor que está voando no quarto!”. Entretanto, sua querida mamãe não conseguia enxergar aquele lindo pássaro, mas entendia racionalmente que ela tinha a Graça Divina e o privilégio de poder presenciar algo que aos nossos olhos não seria possível contemplar aquela beleza. Naquele instante estava configurado o esplendor de um milagre!
No dia 13 de julho de 2001, por volta de 09.00 h Laurinha, aquela bonequinha de carne, viria a nos deixar aflitos e tristes com seu falecimento. Já não podia pronunciar as palavras que tanto gostava e perguntar por Dedei. Também não poderia mais passear alegre e feliz com sua mamãe pela Praça Dom Epaminondas à procura de seus infelizes amiguinhos, como que desejando levá-los todos para sua casa e a resolver todos os seus problemas.
Seu caixãozinho todo branco estava coberto de flores. Eram crisântemos também brancos que cobriam seu corpinho e que simbolizavam a extensão incomensurável de seu amor aos pequeninos desafortunados e aos mendigos que ela buscava encontrar pelas ruas da cidade ofertando um pouco de conforto e esperança. Seu corpo foi velado em sala própria do Cemitério Parque das Paineiras em Taubaté-SP, sendo sepultado na mesma Necrópole no Jazigo da família, localizado no setor 1/S, nº 18. Querida Laurinha! Saudades eternas deste amigo que não teve a felicidade de conhecê-la, mas que aprendeu o legado de toda uma imensidão de amor que somente você soube distribuir.
Requiescat in pace, Anjo da Bondade! Até um dia, meu amor!
PROFº GILBERTO DA COSTA FERREIRA - HISTORIADOR, PESQUISADOR E ESCRITOR.
cfgilberto@yahoo.com.br
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