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O DETENTO E O PRESENTE DE NATAL

  O DETENTO E O PRESENTE DE NATAL.

 

Dia 20 de dezembro de 1990, por volta de 10 horas, quando me encontrava em policiamento na Praça Dom Epaminondas, em Taubaté, fui procurado por uma senhorita, a qual, acompanhada de seu filhinho e muito timidamente entregou-me uma carta. Estava endereçada à minha pessoa. Ao abri-la, continha alguns dizeres que ainda permanecem em minha memória e teimam em me acompanhar.

Nela, dizia: “Cadeia Pública de Taubaté, 18 de dezembro de 1990. Prezado Professor Gilberto. Como vê, esta carta sai de uma prisão. Ela foi escrita por um desgraçado, atingido pela fatalidade da vida e à mercê da tristeza de um cárcere. Apelo ao senhor para que atenda este meu pedido, pois, fui seu aluno no Supletivo do Idesa, admiro-o muito e sei o pai extremoso que é.

Esta carta é minha última esperança e portadora de todo meu infortúnio. Esta é a semana que mais me entristece, que mais me aproxima da desilusão, que mais me atordoa, pois, não posso estar com meu anjinho que acaba de completar dois anos e nem tampouco lhe dar o brinquedinho de presente na noite de Natal e que ele tanto balbucia em casa: meu "calinho", como ele se refere ao carrinho que pediu ao Papai Noel e que tanto espera dentro de seu sapatinho na janela de seu quarto. E esse mesmo Papai Noel que poderia atender ao pedido do seu anjinho querido encontra-se financeiramente arrasado e entre as grades de uma cela. Por Jesus, me ajude”.

Amigo, recebi sua carta através de sua esposa. Você não pode imaginar a tristeza imensa que tomou conta do meu coração nesta semana em que comemoramos o nascimento de Jesus. Tristeza, por saber que está apreensivo com a aproximação do Natal e sem condições de atender ao que seu anjinho loiro de dois aninhos de vida pede ao Papai Noel. Tristeza, por saber que à meia-noite, ao ouvir o barulho do espocar dos fogos no grande momento da Cristandade, não tenha ele aos seus braços. Tristeza maior ainda ao não poder vê-lo brincar com seu “calinho”.

Neste momento terrível por qual passa e tomado pela angústia e aflição peço-lhe que tenha paz no seu coração e a certeza de que seu pedido será atendido. Prometo-lhe que no dia 24 de dezembro à meia-noite o tão sonhado "calinho" pedido ao Papai Noel estará ao lado do sapatinho do seu tesouro, na janelinha de seu quarto.

Não me lembro de você como meu aluno, nem mesmo pela carta que recebo sem a identificação do remetente, e até pela lembrança de seu nome que sua esposa me faz. Até compreendo seu esquecimento, aliás, também me perdoe por não me lembrar, afinal, são centenas de alunos em várias escolas e torna-se difícil, quase impossível, a lembrança de todos. Também entendo que a época natalina nos comove e nos enche de emoção.

Por outro lado, não tenho interesse em saber o crime que tenha cometido. Será o presente do Papai Noel professor e policial amigo, de pai para pai, porque não me envergonho de sua admiração por mim, e tampouco me constrangeria em abraçá-lo um dia. Porém, percebi, pela lucidez de sua carta, pela desgraça que o atinge nesse momento e pelo amor ao seu anjinho loiro, a grandeza do seu coração.

Aceite o meu conforto neste momento difícil de sua vida, e com a certeza absoluta que em outros natais estará ao lado de seu anjinho querido. Este, no momento, é o melhor remédio que encontrei nas prateleiras da minha farmácia para lhe oferecer. Feliz Natal, meu irmão!

 

 

PROFº GILBERTO DA COSTA FERREIRA - HISTORIADOR, PESQUISADOR E ESCRITOR. 

cfgilberto@yahoo.com.br

 

 

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